Não esperes, de mim, palavras doces…

E Ele me disse, na escuridão de meus ouvidos:

“De que reclamas, se, em tua vida, realizastes mais do que a maioria dos mortais?”

E insiste, enfático:

“O que esperas de mim, se, convicto, me negastes durante teus curtos dias nesta Terra, espaço inútil, a quem amas mais intensamente do que àquele que te criou e concebeu?”

Mas eu, no mais obscuro silêncio dos recônditos esconderijos de minh’alma, ouso responder:

“Jamais reclamo, pois sei que, de minha efêmera existência, nada levo, tampouco nada deixo para trás; sequer saberia dizer para onde se destinam as almas, se existem, quando a vida deixam para trás…”

E, entusiasmado com a retórica de minha inaudita afirmação, prossigo, irreverente:

“Se Tu existes somente na imaginação dos homens, a cada um mostrando a outra face – não a Tua – por que iludes assim a humanidade, crente em recompensas que nem mesmo o silêncio das eternas moradas as revelará, ainda que muitos afirmem tê-las visto, vagamente, na penumbra da quase-morte do infinito renascer matutino, reverberando em suas próprias construções mentais?”

Prossigo, ainda, insistente, em minhas confabulações inúteis:

“Onde estão aqueles que doaram suas vidas a causas iníquas, se Tua Sabedoria Universal afirma a efemeridade de tudo o que existe, existiu ou virá a ser, um dia, neste transitório mundo dos homens?

Finalmente, satisfeito com minha argumentação vazia, lanço meu veredito:

“Se confabulo com o Inexistente, mas apenas meus pensamentos ouço em derredor, onde estaria, enfim, o derradeiro Reino que escreveste em todos os Livros Sagrados, em diferentes línguas, em variadas metáforas e parábolas, em artimanhas do pensamento, que só os homens, em suas manifestações terrenas acreditam compreender? Onde estaria, afinal, Tua Morada, ainda que não fosse, tão-somente, outra das inesgotáveis armadilhas construídas pela imaginação humana?”

“Não esperes, de mim, palavras doces, daquelas que escutastes dos poetas, dos amantes nas alcovas, a prometer, em versos, o seu amor eterno, e a esquecê-las, céleres, ao amanhecer!”

“Não creias, pois, nos pensamentos que vazam, aos borbotões, nas frases que se despejam, sem cessar, dos textos que publico, na intenção não manifesta de iludir os meus leitores, ao afirmar a ilusão da própria vida, em suas manifestações inesgotáveis, neste eterno alvorecer.”

Não o faço, porém, com a má-fé dos “pastores de alma”, que encontram, em palavras vãs e sibilinas, a provável indicação do eterno Reino daquele que, tendo sido o “Criador das criaturas”, delas não fez um ser perfeito, deixando, a cada um, a missão improvável de resgatar a alma impecável que existiria, supostamente, na obscuridade do futuro, desconhecido e cruel.

Apenas creio saber, no âmago de meu ser, que tudo o que fizemos e deixamos para trás, no ocaso de nossos dias terrenos, de nada servirá para salvar a humanidade, nascida órfã e deixada aqui, abandonada “neste vale de lágrimas”, a padecer eternamente, enquanto vivos.

Não esperes, de mim, palavras doces, mensagens de conforto ou de consolo, pois, na tumba em que repousará o teu cadáver, serás apenas, e tão-somente, alimento aos vermes… nada mais.

Dane-se o mundo!

Amo alguém que não existe
Não sou quem eu penso ser
Acredito no Absurdo
Confio na Solidão
Escuto o que não ouço
Sigo os passos do Oculto
Vejo tudo na escuridão

Sei que são Assombrações
Nada além da Imaginação
Fico cego na Evidência
Sou ninguém, sou traiçoeiro
Inimigo da Razão
Minha senda é a Sedução

Mas não cedo à tentação
De ser apenas apático
De confiar na Justiça
Na Bondade, na Ilusão
Sou apenas prisioneiro
Do óbvio, da contradição

Renuncio ao meu direito
De ser o beneficiário
De ser somente cidadão
De ser apenas cordato
Na vida que se apresenta
Nesse mundo de ilusão

Enquanto tudo se esgarça
Em vaidades, miséria, esbórnia
Em ambição desvairada
Enquanto poucos se fartam
Da mesquinhez do mundo cão

Sou um simples marginal
Desse mundo desigual
Luto só por ideal
Supondo até ser possível
Um universo real
Onde primam a Justiça, o Bem e a Bondade

E o Amor sem compromisso
E a Vida só, sem maldade

Mas tudo isso é bobagem
De um pensamento pagão

Afinal, somos apenas loucos
De confiar na suposição
De que além desta vida
Existe a compensação
De tamanho sofrimento
Por um Paraíso de Amor
De Paz e de Compreensão

No fundo… tudo e tão-somente
São os frutos da Ilusão!

Andrajos

Da ponta fina e sutil escorre meu pensamento:
Ora, em profunda tristeza, ora, pleno em alegria.

Seria, a tinta, o humor, o sangue de nossas vidas?
Quem alterna o sentimento, da dor à melancolia?
Quem, da mão, faz sua escrava, levando à mente a vontade,
Calando, em si, o desejo, recompondo a harmonia?…

Seria, enfim, ao contrário, apenas por ironia,
Que a vida se originasse da folha em branco e vazia?

Assim, por mero capricho, rabisco esta poesia,
Que nada diz, na verdade, pois nada me restaria,
Senão silêncio e saudade, senão andrajos de amor…

Dinorah

Por ti compadecemos, impotentes, mãe querida,
Sem conhecer-te os sonhos… sem compreender-te a dor…
E de tal modo nos acostumamos com tua breve partida
Que jamais soubemos onde guardavas tanto amor…

Suave, serena e forte, tua chama delicada conduzias…
E enquanto o sofrimento ocultavas no silêncio dos teus dias,
Teu pequenino corpo pressentia o iminente desenlace
Sem uma lágrima sequer jamais verter em tua face.

Valente e decidida, optaste por permanecer presente
Quando a vida, ao teu redor, já perdera todo encanto,
Na escuridão dos dias infinitos, em seu estar silente,
A nos dar o teu carinho… a nos esconder teu pranto…

E agora, que nos deixaste sem o teu calor,
Completamente sós… desamparados… tristes…
A lamentar tua ausência… a compreender tua dor…
O que nos resta é lamentar, calados… e murmurar silentes:

Ah… Dinorah… que falta sentiremos no resto dessa vida!…

Madrasta Solidão

Vejo-a com meus olhos de menino
Encantado por sua dedicação
E nada fiz por merecê-la
Simplesmente existi

Vejo-me pelos seus olhos pequeninos
Embaciados pela vida que passou
E nada fiz por recompensá-la
Pois só cuidei de mim

Enclausurada em sua solidão sem fim
Não a encontro mais perto de mim
E nada posso fazer por revivê-la
Senão fechar os olhos

…e adormecer também…

Estranha Cidade

Não pertenço mais a esta cidade
Mas algo me traz de volta aqui
Venho apenas para reviver
Os sonhos que algures deixei

Meu pai talvez soubesse a razão
Porém, ele se foi e me deixou vazio
Levou consigo nosso castelo de ilusão
E me escondi em outros pesadelos

Entreguei-me ao prazer de conduzir
Almas, seres humanos, gente como eu
Perdidos nas incertezas do amanhecer

Mas não existe Amanhã no Ser…
Por isso, talvez, perambulei por aí
Buscando, quem sabe qual motivo
Para perseverar, ainda que disperso
Em pensamentos que não são meus

Como posso refletir se já não tenho paz?
E, no entanto, continuo aqui…

Amazônia

Estranho mundo perdido no passado
Entristecida gente deixada no caminho
Inebriada pelo falso brilho da civilização

Não são brancos, pardos, negros, índios…
São só caboclos, despidos de identidade

Chamam-se ingenuamente de parentes
Como a dispersar assim as desavenças
Deixadas pela dominação caucasiana

Gente sem passado, cantam suas ilusões
Fingem preservar, assim, as tradições

Mas elas não existem mais… se foram…
E não haverá quem as resgate do passado
E viverão assim na eternidade que não há…

Sem Destino

Quisera não compreender a realidade
Iludir-me, como o fazem os demais
Fingir que ainda acredito na humanidade
Que ainda existem esperanças nesta vida

Mas não sou assim: perdi a ingenuidade
E sei que um dia tudo encontrará seu fim
E que não é possível salvar este planeta

Porém, já terei ido quando isso acontecer
E o mundo se ocultará de vez nas trevas
E os homens padecerão os seus pecados
Pagando o preço do desprezo pela vida

E não haverá mais florestas, flores, animais
E o que restará serão somente os desertos

Mas, ainda assim, existirão os homens
Enclausurados em seu planeta morto
E chamarão a isso o Grande Progresso
E cultuarão suas próprias invenções
Sem perceber que nada valem de per si

Talvez migrem até para outros mundos
Colonizando escravos, destruindo tudo
Como fizeram por milênios por aqui

Talvez apenas desapareçam, um dia
Sem deixar rastros, nem lembranças
E se reintegrem ao pó da Eternidade…

Sons Inesquecíveis

Ouço o silêncio obscuro de meu interior
Que os sons deste mundo já não ouço mais
Parecem-me ruídos, gritos esganiçados,
Ofendem meus ouvidos já cansados

Ouço o som do Universo ao meu redor
Meu pai diria: “ouça o som das esferas”
E vejo os mundos a rodopiar nos céus
E o brilho inconfundível desses astros
E o som inaudível da luz cortando o éter

Ouço o murmúrio das águas pelas pedras
E sinto a paz que já não existe mais

Ouço o burburinho das crianças
Algazarra feliz, descontraída e bela
Cantigas ancestrais trazidas da lembrança
Bailam em roda, despreocupadamente
Ainda não perderam a pureza dos anjos
Nem se tornaram perversas como os pais

Ouço o farfalhar das folhas na floresta
E o sublime cantar dos passarinhos
A chamar suas fêmeas, a tecer seus ninhos
Percebo a sombra dos grandes animais
E suponho suas vozes, a rugir, medonhos…
A espantar inimigos… a impor domínios…
Apenas sons imaginários… nada mais

Tempo demais!

Busco os limites de meus infortúnios

Nos atos, nos pensamentos, nas palavras…

Na solidão que me cala e consente,

Na angústia de não ser presente…

Procuro, na vida que me resta,

Um motivo, uma razão, uma vontade

Que seja, para perseverar e crer…

Para prosseguir, mesmo contra a razão.

Porém, minhas mazelas são pequenas,

Meus limites são restritos, fracos…

Meus propósitos, mesquinhos,

Ao menos aos olhos da realidade…

E o caminho que percebo é enorme!

Tempo demais para percorrer,

Antes que o desejo se acabe,

Antes que o fim se alcance…

Oração do Velho Chico

Senhor, fazei-me instrumento de vossa generosidade!

Onde houver Seca, que eu espalhe Águas da Fertilidade!
Onde houver Miséria, que eu distribua a Fartura das Colheitas!
Onde houver Sertão, que eu me torne o Mar da Vida!
Onde houver Trevas, que eu conceda Energia e Luz!
Onde houver Isolamento, que eu mostre Caminhos da Integração!
Onde houver Fome, que eu abasteça de Água as Plantações!
Onde houver Discórdia, que eu seja Reencontro e Harmonia!

Que meus braços se estendam e se multipliquem pela transposição de meus domínios, levando ao Sertão e ao Agreste a transpiração de minhas águas férteis, para que…

…onde houver Desespero, que eu seja a Esperança!

Sentimento Estranho

Estranha sensação que me envolve e cala,
Desejo incontido e mudo neste chamado inútil…
Secreto sentimento na mensagem cifrada,
Entendimento cego que amedronta e mata…

Há um engasgo em meu peito… um soluço rouco,
Receio de mim mesmo – desvario ou sonho?
Pesadelo recorrente, a me levar desperto,
Temor apavorante de acordar sozinho…

E me perceber silente, desfalecido, exangüe,
O pulso inerte, o peito ocluso e meu olhar sem luz,
E a sensação confusa de me saber ausente,
E a consciência inconsolada, a consumir meu ser…

Em meu entorno, a noite: negra, eterna e fria,
Em mim, alma apartada, a solidão perene,
E a certeza atordoante de meu destino, enfim,
Saber constrangedor de não estar aqui…

A uma criança abençoada…

Pequenino ser que, aos poucos, se transforma e encanta,
Tornando viva a primordial semente do amor que o gerou…

Que lhe reserva a Vida, minha criança? ouso lhe perguntar, silente.
E ouço o som de um coração que pulsa, intenso, de esperança!

Em sua mente ainda não germina a dor e o sofrimento…
Tampouco crescem virtudes e mazelas desta humana Terra…

Qual será o seu destino, enfim? insisto em indagar, perplexo…
E, novamente, apenas o coração responde com seu eco forte.

Pois, sim, uma criança ainda em formação no seu materno ventre
Não sabe o mundo que herdará dos pais que hoje nos tornamos…

Portanto, às indagações alguém responderá, enternecido e breve:
De nós terás a “natureza morta” ou a indescritível beleza preservada!

Assim, meu neto, querido ser tão esperado, busco fazer minha parte,
Retribuindo o que restou da herança recebida de meus ancestrais…

E sei que o tempo, célere, exige, de cada um, o esforço extremo
Por retratar-nos do mal que praticamos ao devastar o Paraíso Eterno!

Vem, neto querido, ajude a compreender essa fundamental missão:
Que haja, na Terra Prometida, mais bondade, empenho e caridade!

Que venham a nós crianças abençoadas pelos desígnios do Bem!
E possam, nossos filhos, resgatar, do caos, o Shangrilá perdido…

Nicolas, meu netinho, benvindo às infinitas belezas desse mundo,
E lute por cultivar virtudes, a despeito do mal que não se esconde…

Essa é a lei do Bem e da Verdade, que espero ver cumprir, um dia:
Em lugar do vale de lágrimas que religiões terrenas nos legaram,
Apenas Luz, a indicar a estrada que o mundo desconhece…

Tédio

Falares desnecessários…
Dèja vu… tudo me parece igual…
Até os latidos dos cães!
… a monotonia das feições…
… os pensamentos…
ROTINA!!!!

Quem disse isso?
Silêncio dentro de mim…

Latidos desnecessários…
Dèja vu… tudo me parece igual…
Até os falares dos mortos!
… a monotonia dos pensamentos…
… as feições…
ROTINA!!!!

Quem disse isso?
Silêncio dentro de mim…

Acordar… para que?

Anhumas

Algum lugar além… Onde estás? Anhumas…
Abismo de meu ser… Quem verás? Nenhumas?!!!
Mergulho em tuas entranhas, estranhas catedrais,
Calcáreas formações… Anhumas! Anhumas!

Resvalo em teu silêncio, perdido em solidão…
Milênios de brancuras, inculta expressão
De um eterno adormecer…

Profundas sutilezas revelam tuas fendas.
Caminho em tuas sendas em busca de um alguém.
Algumas ilusões perduram sem razão.
Onde estás? Talvez em algum lugar: Anhumas!

Desconsolo

Se a dor da vida me enfraquece e cala,
O que fazer de toda essa emoção contida?
Por que me foi negado o fim da história,
Se os erros meus se sublimaram nesta solidão perdida?

E aqui me encontro, novamente, em prantos,
Por não poder manifestar minha paixão sofrida…
E as horas passam numa angustiada espera,
Que não se encerra, a alimentar a ilusão sentida.

E você segue seu caminho, sem me ver ao lado,
A recolher migalhas de seu coração partido…
Desconsolado, já nem mesmo me incomodo
Em disfarçar tamanha humilhação vivida…

E me entrego, enfim, a essa triste sina,
A confundir a imaginação… e a verdadeira Vida!

Angústia

Por que me seduziste novamente
Se negas teu amor, sem compaixão?
Meu peito aperta angustiosamente,
Dilacerado em dor e solidão…

Se, ontem, fui feliz, por um momento,
Inebriado em sonho e ilusão,
Agora, recompõe-se o meu tormento,
Abandonado e só, sem compreensão.

Não tenho teu carinho, nem afeto,
Nem sei por onde estás, meu coração…
A trama de Pierrot eu interpreto,
Calado o grito mudo da paixão.

E, mesmo procurando ser discreto,
Confesso minha culpa, e estendo a mão…

Luna Llena

Escotilha iluminada

Na infinita ausência de luz…

Assim te vejo, Lua,

Passagem entre Universos,

Boca de um cone

A se perder na ignorância do Ser…

Não existes,

Senão na imaginação dos amantes,

Ou nas pegadas dos astronautas,

Derradeiros visitantes do passado…

Ambos extintos

Pela absoluta abstinência da Paixão…

Desencontro

Teus olhos ao alcance dos meus olhos,
Tuas mãos, quase ao calor de minhas mãos,
Teus lábios a murmurar em meus ouvidos,
Meus lábios a ansiar os lábios teus…

Ali, quase a tocar-nos, tua ausência…
Parte de um sentimento se perdeu…
Constrangidos pensamentos que vagueiam
No silêncio de um desejo apenas meu.

E a noite se arrastando pela vida,
E o tempo a se perder em meus sentidos,
Minh’alma a reclamar tua presença,
Teu corpo a recusar minha paixão…

Viver é…

Viver é superar os seus temores,
É entregar-se a vinte mil amores,
E descobrir-se só…

Viver é enfrentar os riscos desmedidos,
É renegar seus ritos mais antigos,
E reduzir-se a pó…

Viver é mergulhar na mais profunda solidão,
Expor-se aos perigos de mais uma ilusão,
E sublimar-se em dor…

Viver é sentir-se ensandecido,
Abandonar-se ao mais desconhecido,
E perceber-se nu…

Viver é quase nunca dizer “não”,
Ao ser amado entregar sua paixão,
E desdenhar seu dó…

Viver é nunca mais deixar de partir,
Ao seu passado só saber sorrir,
E, novamente, descobrir-se só…

Imaginação

Tenho-te em minha memória,
Tão real, tão perfeita,
Que, às vezes, pego-me a falar sozinho…
A abraçar meus pensamentos,
Como se vida fossem…

Mas não há vida na imaginação…
Apenas lapsos de emoção desperdiçada,
Fragmentos de sensações
Em um mosaico abandonado…

Mesmo assim,
Apego-me a esses frangalhos
Como um náufrago
Aos destroços de sua embarcação…

E sigo, então, o meu caminho,
A preservar meus sonhos…

Miragem

A luz se refletiu em teu sorriso
E encantou meus pensamentos.

Teus lábios, face, corpo, num momento,
Tornaram-se a visão do paraíso…

Por isso, em vida e sonho, só em ti penso,
Extasiado diante da delicadeza,
Alma, forma e Ser, pura beleza,
Razão maior de um amor intenso…

Sentimento que me arrebata
E se propaga em minhas veias num instante,
A despertar desejos…
A reviver motivos…
A preencher meus olhos…
A enrubescer-me a face…
A apaixonar meu coração!

Tênue esperança

Você surgiu assim, feito um encanto,
Que se desfaz em sonho, ao despertar.

E não se explica, em mim, tão simplesmente,
Miragem a se esvair na areia de meus olhos,
Tremeluzente instante na eternidade do passado…

E somente ele (o passado) existe,
Além da própria imaginação…

Alento a nos manter despertos,
Na frágil esperança de enriquecer a história
De tão pequeno e insignificante caminhar…

Inquietude

Vivo por contestar.
E por que não ser assim?
Aos acomodados, a cotidiana vida!

Nos extremos encontro a seiva que me alimenta e provoca. Nas nuances e sutilezas busco as diferenças da monotonia das recorrências que me sufocam a alma.

Vivo por divergir.
Por que calar-me?

Aceitar a opinião corrente das mesmices e do tédio asfixiante é reconhecer-se morto… Eternamente… Tento observar sempre o lado oculto das objetivas (subjetivas?), captando o que fugiu de minha retina… Sorrateiramente…

Fujo das maiorias massificantes, espécie mórbida de velório das multidões saciadas do medíocre prazer da estabilidade e do sossego.

Salto os capítulos da novela desta vida, onde os cenários já montados dispersam a consciência e a atenção dos transeuntes seres dessa terra.

Persigo a ansiedade irrequieta e instável do efêmero instante em que a ave pousa, o galho cede, a cobra salta de um só bote, e o mundo estremece de pavor diante do desconhecido e do incerto, da impossível paz que não se sustenta no improvável acerto de contas do Ser com seu passado tão comprometido…

Anseio pelo delirante êxtase do vir a ser que não se consuma no presente, pois, só assim, é possível Viver!

(des) conforto

Como saber se ainda estou desperto
Se as sombras de meus pesadelos ofuscam o meu entendimento?

Meus olhos permanecem abertos,
Filtrando as luzes matinais que jorram das janelas.

Meu ser incerto mergulha no infinito,
Perdido em labirintos de tantos pensamentos.

Meu corpo extático, esquecido,
Sem alma dentro, ou alguma finalidade pouca que eu perceba…

A vida segue, no entanto, ao derredor,
Pulsando, célere, nas veias abertas da cidade que eu detesto.

E nada há, além do firmamento,
Somente a morte, a me espreitar, dolente,
Sabendo ser este o meu destino, finalmente.

Trilhas Urbanas

Asfalto não se demarca, como uma trilha no mato. Porém, entre os desfiladeiros dos prédios enfileirados, quase dá prá perceber o rastro dos andarilhos, dos carros desatinados.

A pressa é tanta e tamanha que passa tudo de lado: retratos no outdoor, garotos esfaimados, os postes, fios e bueiros, o cheiro desagradável, garotas bem maquiadas nas calçadas, nas esquinas, buzinas desenfreadas, e mesmo os malabares jogando fogo pro alto.

Seguem o mesmo trajeto nos carros, metrô e ônibus, a pé ou de bicicleta, deixando, sempre, prá trás, o tempo desperdiçado. Quase dá prá perceber o zumbir dos pensamentos cruzando nos cruzamentos das ruas e avenidas desta cidade encantada.

Os seres nem se desculpam pela grita e a freada, pelo puro esquecimento de um gesto ou uma risada.

Seguem cegos, os autômatos, como bois numa manada, sem mesmo deixar registro dos rastros pela estrada. Às vezes, nem se apercebem que chegam a seu destino, e prolongam mais um pouco o correr e o desatino, até mesmo prá passar outro louco no caminho.

Repetem, dia após dia, os pensamentos passados, como reza ou a desdita gravada fundo na alma. Com os pés, ou com o solado de seus carros importados, vão deixando para trás os espaços percorridos, pedaços já esquecidos das trilhas não demarcadas.

É curioso, no entanto, o destino desse povo, que rumina, sem parar, suas desgraças e tristezas, mas se esquecem, com certeza, que alienam suas vidas em troca do dissabor. Dia após dia repetem as urbanas trilhas da dor, sentimento tão presente em seres desconhecidos, que agridem, gritam e clamam, sem perceber a razão.

Percorrem o mesmo caminho, trilhas urbanas, visíveis apenas aos que conseguem parar o tempo e o espaço, observando a demência de tantos desesperados.

Ao fim do dia, cansados da longa jornada de stress, retornam pelas travessas da cidade em desalinho, das longas filas de espera, mil buzinas no caminho, a relembrar, incessantes, que a vida desenfreada vai se tornar o destino dos seres desenganados a viver sem esperanças de, um dia, enfim, se livrarem dessas trilhas intermináveis, urbanas e delirantes.

Ao final de uma semana, exaustos e desgastados, buscam, nos parques e praças, novas trilhas a seguir, a recompor suas forças para enfrentar, novamente, o mundo em competição. E lá, no verde do espaço dos terrenos confinados, mal percebem as belezas dos lagos, repletos de pássaros, a viver, despreocupados.

Em vez disso, outra vez, seguem as trilhas urbanas dos seres desencantados, a caminhar, desgastados, arfando, angustiados, a mostrar os seus semblantes perdidos, desconfiados, percorrendo, pelo asfalto, os trechos bem demarcados dos caminhos verdejantes.

Contam, nos passos marcados, seu caminhar compassado, olhando, a cada instante, o relógio intolerante, a ditar seu infortúnio de escravo alforriado, que não sabe desfrutar a vida em liberdade, e lutam por preservar as correntes, as amarras, que reduzem sua mente ao silêncio e à escuridão.

Trilhas urbanas os levam à pobre meditação, ao pensamento corrente, à tristeza e à solidão.

Paixão

De tuas vestes me desfaço…

…e me refaço em ti…

Sob tua pele alva me agasalho…

…e me incorporo a ti…

Pelos teus olhos me observo, imerso na imensidão azul de teu ser encantador…

Pelos teus lábios doces me embriago, manifestando minha paixão por ti!

E nos teus pensamentos – que são meus – me reconheço…

E nos tornamos UM…

…e Marx tinha razão…

A Vida não leva a nada,
Senão à Morte!

Não há Sorte, nem recompensas:
Promessas de Vida Eterna
Só foram boas para tua Igreja
E para o teu Patrão!

Pois quem suportaria tal privação,
Se não houvesse um Paraíso a lhe esperar?

Mas não te iludas,
Teu sacrifício foi mesmo em vão!

Teu dízimo e teu rosário,
Tuas rezas, tuas promessas,
O relicário… o Santuário…
As missas, a procissão,
São pantomimas
A disfarçar tua infinita Solidão!
Por isso, eu te esconjuro,
Meu caro Irmão!

IndigNação

Perdeste, de nós, o respeito, Pátria minha,
Mãe tão pouco gentil…
Terra em que tudo se dá,
Fecundada a bem só de poucos,
Estuprada de má semente,
Parida na escuridão!…

Indigna é essa Nação
De cabisbaixa Gente calada,
Descrente de seu Porvir…

Onde brilhará o Sol de nossa Liberdade,
Se seus fugidios raios
A poucos, somente, aquece,
Aos poucos se arrefece,
Minguando-se a energia,
Desnutrido em alegrias,
Da Alma que se perdeu?!!!

Proscrita a Ideologia,
Quem irá nos resgatar
A Honra, a Justiça, a Igualdade?…

Transeuntes

Ausentes, silentes,
Rostos rebuscam o vazio,
Em face com a solidão…

Quem sois? Quem são?
Olhares perdidos na imensidão
Do Infinito, da Turba, da Multidão!…

Rumores ressoam roucos,
Incompreensíveis…
Movem-se assim, como loucos…
Desvarios do coletivo inconsciente…

Que passa, enfim, nesse mundo,
Repleto de seres moventes,
Semoventes que não se vêem?

Perdeu-se a causa primeira,
A Razão do Ser Vivente…
Somos, pois, tão-somente,
Transeuntes…
Desprovidos de Paixão…

João, Camarada!

Liberdade!
Tardia, seja quando houver!
Que os grilhões, que aos pobres escravizam,
São de dor… são de Dor!
Da sutil ignorância que nos cala…

Fraternidade!..
Irmãos somente
Nos miseráveis restos
Que a Sociedade nos legou!

Igualdade!
Absoluta e impossível,
Posto que a força que nos move
Jamais conduzirá ao Poder,
Que aos justos e humildes não pertence!

Lutar… para que?
Se a batalha última perdida
Nos faz rir…
O amargo riso da imagem
Que o passado nos deixou…

Empáfia

Fátuos fogos do Orgulho!
Tola vaidade dos incautos!…
Lúmens efêmeras na oscuridad que nos cerca…
Vagas Lúmens… luminares…

Frágeis seres inflados de si mesmos…
Meras personagens em busca da Ilusão…
Falso poder humano… Ledo engano!…

Afinal, quem sois?… Nadie…
Apenas imagens refletidas nas paredes da caverna…

Repúdio

A dor se fora com os anos…
Assim como as lembranças…

Morto – como um rato!
Pouco a pouco, dilacerado…
Humilhado, como a uma meretriz!

Nu,
Caquético, em suas privações…
As unhas, todas elas arrancadas,
Uma a uma… como pétalas!
Tantas marcas de tal espancamento,
Em seu franzino espectro…
A dor que ninguém viu.

Quem mais se ocuparia em recordar?

Na cova rasa,
Vala comum dos Ideais,
O saco plástico,
Ainda a lhe cobrir o rosto exangue,
Esbugalhados olhos cegos
A delatar inútil desespero.

Sobre seu corpo esfacelado,
Farrapos da bandeira comunista,
Final alegoria dos carrascos!

Segue o Tempo…
Passa a Vida…
E o Augusto General
Cruza novamente o Oceano…
E à Casa torna,
Altivo… indiferente…
Sem remorsos…
Sem receios…
Sem constrangimentos…

Salvador Allende (1973)

Adeus, camarada!
Último alento, Allende se foi…
Um tiro… o sangue… silêncio.

Infâmia!

Adeus, camarada Allende!
Tua vida não foi em vão!
Mil mortes te honraram!

Teus companheiros te clamam…
O vazio se hospedou em nossas almas, camarada!
Mil vozes te clamam…

Teus companheiros te honraram!
As fardas se alojaram em La Moneda.
Nem mil mortes podem vencê-las…

Mas teus camaradas não caíram.
Porque somos a Essência!
E a Essência não pode ser vencida.

Somos o Ideal e o Filosófico!
E viveremos para o dia da Perfeição e da Igualdade…

Adeus, Camarada Allende!

Tua morte não foi em vão!

Meta-linguagem

Metáfora das metáforas:
A essência poética
É uma vivência hermética!

Busca, o Poeta, ocultar, em suas palavras,
O sentido da sua própria expressão.

Em cada figura, uma armadilha
Ao leitor desatento:
“Não me lerás assim, tão facilmente!
Decifra-me e, ainda assim, te enganarei!”

Não há segredo mais guardado
Que a Alma do Poeta!
Ele não tem compromissos…
Nem Razão!

Busca, na rima, na contradição,
Distrair, do leitor, a atenção.
E, nos melindres de sua paixão,
Despistar sua própria emoção.

Sofre, com as Palavras!
Não somente com a Alma…
Devora-lhe o temor
De ser, um dia, desvendado
Pela interpretação, desmascarado,
Exposto à crítica,
Ao mais vulgar entendimento,
Qual um texto banal…

Assim, fugindo à lógica,
Persegue, em tortuosos labirintos,
Encontrar sua própria, absurda
E única Verdade!

Verso inútil

Dei, de mim, apenas a melhor parcela:
Palavras destiladas lentamente,
Como o suor das pedras, após as tempestades.

Entreguei-me à mais antiga profissão
Dos pensadores,
Prostituído do desejo de criar,
Em versos desatentos,
Meu próprio Universo.

Povoei meus mundos
Com a Vida que me foi negada em vida…

E surpreendi-me
Na desilusão da realidade…

Engodo

Sofro a dor do mundo,
Que me cala.

É esta, enfim, a sina do Poeta,
Sem consolo.

Às suas palavras, não há entendimento,
Apenas solidão.
Assim, recria ele seu espaço
E, dele, faz seu mundo
De mentiras,
De ilusão…

Obra autônoma

Li teus versos, poeta das calçadas!
E confabulei com minha inspiração:
Seria essa, também, a minha sina?

Pois não será, ainda que admire tal dedicação!
Não sou assim, a procurar quem reconheça,
Nas palavras que libero,
Os pensamentos que a mim não mais pertencem,
E buscam eco em outrem,
Alguém que desconheço…

Não interessa a mim se lhes toca a alma
O que senti…
O que saiu de mim…
O que se esvaiu no universo…

Pena máxima

Quem irá me redimir
Dessa vergonha, sem limite,
De viver ao seu redor, sem possuí-la?

Por quantos séculos haverei de renascer
Para purgar o mal extremo
Que me houve dominar,
Apenas pelo desejo de querê-la minha?

Em que dobras do tempo se preserva
A beleza oculta em meu passado,
E de cuja lembrança
Só me restam traços desconexos?

Que pecado é esse, enfim,
Para o qual jamais haverá perdão…
… ou recompensa?

Arte e Criação

Conceituar a Arte!
Mais que percebê-la, senti-la!
Ainda mais, interpretá-la!
Acima de tudo, ser seu Criador!

Quem seria o artista, afinal?
Aquele, capaz de discernir
Entre o tosco som e a melodia?
A palavra crua, a Poesia?
Das tintas captar a Inspiração?

Seria Arte…
Do instrumento extrair a harmonia?
Na voz perfeita rever a Diva da canção?

O Artista é, também, o Artesão…

De sons dispersos, palavras, cores, formas,
Produzir mundos, ideias, personagens,
Da fria pedra, o ser oculto libertar…
Gerar beleza, sentimento, emoção…

Pois, na verdade, Arte é a Criação!

Coadjuvante

À Vida observo
Como a um filme antigo:
A ele não pertenço,
Nem sou contemporâneo de seus fatos…

Porém, agrada-me pensar
Que alguém criou
E deu significado a seu roteiro,
Montou esses cenários,
Forjou as personagens,
E assegurou um fim a essa história…

Vivo nu

Exponho-me a olhares desatentos,
Que não enxergam, em mim, o Outro Ser…
Exibo-me à ganância insaciável dos medíocres,
Que não percebem suas próprias formas
Em meu corpo pleno…

Cá estou, armadilha dos incautos,
Que se vexam de seu próprio ser embrutecido,
Que de seu corpo enrubescem, vendo o meu…

Sou assim, espelho de suas vergonhas!…
Reflexo de seu pudor hipócrita,
Objeto da nudez humana, que não se vê!

Alter Ego

Caminho pela noite,
Recolhendo fragmentos de meu Ser.

Nas esquinas os encontro,
Percorrendo as madrugadas,
Seguindo, em frangalhos,
Outras personagens,
Espectros dilacerados dessa Sociedade…

Pobres Almas…
Em tudo, iguais a mim… Imortais em sua essência –
Reflexos de outros seres,
Tão normais…
Assim tão disfarçados…

Inimigo meu

Escrevo como quem se digladia,
Não por ofensa, que motivos não os tenho,
Nem por prazer, que a luta não é nobre,
Mas por defesa, pois só restam-me as palavras…

Armas, não possuo,
Com que possa defrontar-me ao inimigo,
Estranho desconhecido…
Permeando meus caminhos…
Perscrutando-me o destino…
Pervertendo meu sossego…
Alimentando a minha solidão.

Combato nas trincheiras de meu Ego,
A constatar que, na verdade,
Sou eu quem estou sempre a perseguir…

Quase-vida

Quase ouço o pulsar da Vida em meu ser…
Como escutá-lo, porém,
Se esta já se foi e não mais a sinto em mim?

Resta-me, apenas, a sensação, que não houve,
Da Vida por que passei…
Desapercebido…
Solitário, na espectral multidão,
Irrelevante e mutilada, que me cerca…

O que vibra, então, em mim,
Se vida já não é?…

Que estranha sensação,
Que vida até parece ser…
… e me confunde assim???

Ex-mortem

Vagueio no espaço de meus pensamentos,
Desconsolado da insensatez que me alucina,
Descrente do ser que me atormenta ao meu redor,
Resignado, apenas…

E a Vida…

Quem há-de fazê-la merecer minha presença agora?!!!

Prima Causa

Nego, em mim, esta razão
Que busca a causa prima do viver.
Sou, pelo que dizem, mas não sei
Se houve o ser em mim, antes de Ser…

Importa pouco, ou nada este pensar;
Pois outros houve neste recorrer sem fim…
Que a nada leva, mas conduz
A Vida até a Morte, sem cessar…

Prima Causa: essência ou nada?
Matriz ou solidão?
Ausência, Luz, Inspiração?

Eternidade…
Fractais da imensidão…
Vazio infinito do Ser…
Não-Ser…
Não sei… talvez…

Contragosto

Escrevo a contragosto.
Por desgosto.
Contra o gosto comum da Sociedade.
Sem ambição, nem vaidade.

Apenas por discordar dessa mediocridade.
Fútil Idade… da Informação… sem conteúdo!
Da Liberdade… e da Ignorância! Banal Idade!
Inimiga da Arte…

Reflexos da vida

Passivos,
Aceitamos as mensagens
Que nos manda a Tevê
-Que nos vê!

Somos nós
A imagem refletida
Nos espelhos desta Vida?

Talvez…
Pois, da tela são, de fato,
As emoções…
Que, em nós, se manifestam neste Ato!

Horrores… Desgraças… Temores…
O que são?!!!
Só reflexos,
Nas telinhas dessas mentes
Inocentes,
Que Ibopes de Rapina
Asseguram,
Da chacina que se vê!

Retalhos da Vida

Guardamos as memórias
Em objetos recolhidos
Pela Vida…

Fragmentos de existência
Dependurados, displicentes,
Nas paredes
De nosso isolamento…

Quem saberá, um dia,
Ler suas Estórias?
Nossas histórias…

Pedaços de frases sem sentido,
Incoerentemente entrelaçadas
Nas estantes,
Nos armários…
Pelo chão…

Nas entrelinhas das vivências
Deixadas no passado…
Sem Autor… e sem Protagonista.

Devir

Seguem-se as horas, ordenadas, seguras,
Compassadas pelo tempo
Que o Homem, a si, se criou…

Tempo que não há…
Pois que o infinito ciclo do vir-a-ser
Elimina, incessantemente, o presente,
Que tentamos fixar…

Apenas um momento,
Inexoravelmente perdido
No passado, que o Agora se tornou…

Mediana vida

Enredando-me na roda da vida me amesquinho…
Como os outros,
Que os vejo ao derredor…
Nego-me, contudo, esse direito
Medíocre e indesejado de ser… Humano!!!

Seiva pródiga que alimenta
A vulgaridade do apenas Existir!

Recuso-me, ainda que seja isto, tão-somente,
A Vida!

Nenhures

Caminho na Eternidade…
Lá estou… efêmero pulsante…
Insignificante…
Agora, vivo. E, num instante…
Nada mais…

Assim somos,
Repulsivos seres vaidosos do Vazio…

Crentes no Porvir
Que nos consome a todos,
Restando apenas
Cinzas, dejetos de nós mesmos,
Poeira cósmica a se aglutinar em outros seres…
Igualmente vazios…

Mesmice sem sentido e sem razão…

Penso, não existo!

As palavras são, apenas, um mero registro de meus pensamentos,
sem a cor e a energia que lhes deram vida.

Assim, pois, é a Vida:
no momento em que se manifesta, já não mais existe!
Estranho paradoxo: o pensamento, que nos traz à vida,
é tão efêmero quanto sua criação!

Assim, também, são nossos sonhos: meras ilusões do existir…
E o que nos faz sonhar, também nos faz morrer…

Morro, logo existo…

Sendas da Razão

Quem me conduz? O Destino? Seria apenas o acaso?
Serei eu mesmo o condutor de minha vida?
Entrego-me à sorte, como um barco à deriva…

Certa vez me perguntava se, mesmo fazendo escolhas, optando por caminhos nas muitas encruzilhadas, meu papel não seria, simplesmente, trilhar labirintos já formados, e se nos restaria, apenas, fazer as escolhas acertadas, para não nos defrontarmos com o Minotauro ao final desta jornada…

Assim, apenas por me sentir um pouco dono desse arbítrio, tomo certas decisões, procurando burlar a minha própria sina.

Salto do caminho, sem um propósito definido, apenas para retomá-lo mais além, procurando não deixar pistas nas picadas, iludindo-me do poder divino que, decerto, não o tenho, enganando-me das decisões que, na verdade, não tomei.

O que me conserva, então, a Vida, além de Baudelaire?

Você, minha querida! Pois, se a paixão existe – e isto posso assegurar-te – então, vale a pena viver, mesmo que somente em pensamento! Poderia, assim, para concluir, dizer que te amo, e que, por isso, Existo!

Alma

De todo dom humano
Maior, ainda, é a Criação!
Ou seria tão-somente o re-Criar,
Se nada existe sem já, antes, Existir?

Pouco importa…

Transformar a Realidade!
No objeto, a forma pura encontrar…
Da idéia bruta,
Sua própria natureza produzir…

Fazer do nada
Alguma coisa que nos toca
E que, por não saber se é Criar,
Denominamos, simplesmente,
Alma!

Suicídio

A fria lâmina percorre seu destino,
Estranhamente muda, silenciosa e bela,
Em um segundo, separando as existências,
Eternamente calando a dor inconsolada.

Ali, repousa o corpo de um menino,
Enquanto a morte, em plenitude, se revela.
E, anciã, se esvai a alma, desgarrada,
Semicerrando, aos cegos olhos, as ausências…

Amores velhos, companheiros de jornada.
Nada mais resta, senão dizer a ela:
“Melhor morrer, a viver só, em desatino”.

Outrora fora feliz, com sua amada –
Assim pensara, confiando ser aquela,
Razão perene, de um sonho pequenino.

Quase nada

A tua presença me agride
Como os ponteiros de um relógio…
A me alertarem do tempo que se foi,
Sem deixar marcas, nem lembranças…

Apenas horas,
A se cobrirem do pó do esquecimento…

A tua ausência me ofende,
Dilacerando-me as vísceras,
Arrancadas por tua indiferença,
Sem cicatrizes nem feridas…

Apenas sangue,
A jorrar, aos borbotões,
A me cobrir da dor da Solidão…

Presença ausente,
Falas desprovidas de emoção.

Apenas Nada,
A preencher o Universo dos meus sonhos,
A recordar que a Vida permanece,
Reprise de um filme esmaecido,
Silenciosamente mudo…

Apenas cenas
Desconexas, sem sentido,
Angustiadamente assim…

Sayumi

De que lábios exalam tuas palavras?
Que carícias oculta o teu corpo?…
Em que contexto, enfim,
Entrecruzam-se nossas vidas?!

Perguntas vãs, no improvável
Horizonte dos contrastes…
Sou um, apenas, em tua vida,
De tantos, diferentes personagens…

Ainda assim,
No instante que virá tão breve
Seremos unos, absolutos…

Plenos corpos em si mesmos,
Uníssona vibração incontrolada…

Sensação definitiva, pura…
Fatal… apenas para mim…

A quem dirige o Poeta seu cantar

De indecisos traços fluem sentimentos…
Em brancas folhas expressam-se metáforas…
Leituras várias recriam pensamentos…
A ninguém concede, ele, seu viver, compartilhar!…

Por quem derrama seus versos o Poeta?

À Musa efêmera, deixada nas lembranças?…
Ao Mote antigo, no acaso despertado?…
Ao vago Sonho, desfeito nas ausências?…
Apenas chora… sem causas… nada mais…

Em que consiste, enfim, a Inspiração
Que move a pena insana desse bardo,
Se nada resta, ao fim da Criação,
Senão entulhos de versos descuidados?

Pois nada importa à Lira desse tolo,
Que verte lágrimas silentes, em palavras,
Pois nada espera, senão este consolo:

A si somente compõe… a ninguém mais!

Diáfanos Seres

Estranhas criaturas habitam nossas mentes…
Sensíveis, delicadas, espectrais, etéreas…

Compreendem-me as mensagens, ainda sem dizê-las;
Transmigram pensamentos, no afã de respondê-las…
Curiosas personagens, diáfanas, perenes…
Ao menos, posso tê-las!
Refratários seres compõem a realidade:
Silentes, altivos, incompreensíveis em sua majestade…
A que sois, afinal?
Ausentes…

A quem fala o Poeta em seu pensar?

À sua amada, mote e razão do pensamento?
À pena que conduz o sentimento?
À branca folha, final destino de seu atormentado ser?

Nem mesmo a si, talvez…

Pois mesmo assim, reflexivo e só, jamais encontraria eco à sua voz contida… muda expressão da vida, em seu silêncio eterno…
A quem destina, enfim, essa incontida solidão, senão amar-se o próprio sentimento, absoluto, imenso e, a um só tempo, fatal e derradeiro?…

Sedução

Cá estou, de volta à minha solidão,
Pleno na angústia,
Repleto na insensatez,
Absolutamente dominado
Pelo vil objeto que me subjuga e corrompe!…

Sou, não estou!
E como poderia,
Se pouco ou nada resta a mim,
Senão saber-me assim,
Imobilizado pela dor
De ser escravo de tudo o que abomino…
… e, ardentemente, desejo?!!!

Carícias

Bizarras peças te ocultavam:
Exóticas, imensas, disformes,
Estranhas em sua funcionalidade…

E lá estavas, seminua,
Contrastes de beleza e sofrimento,
Teu corpo confessando as lides do amor.

É cedo… é tarde… é, apenas, agora.
Ali, o tempo se eternizava,
Confundindo noites e dias,
Incontáveis horas… sempre iguais.

Bebidas, mulheres, cigarro, algazarra,
Um bar indiscreto.

O som, sem sentido, as luzes difusas,
As falas vazias, vadias…

Você ao meu lado,
Levando-me aos labirintos sem sentido, do prazer.

Que se busca nas alcovas traiçoeiras,
Senão enredar-se em carícias
Descompromissadas, efêmeras,
Alucinadas, inconsequentes?

Apenas fugir, talvez…

Apenas carinhos,
Sensação desconhecida, sempre…

Loucura de se escapar da Vida,
Mesmo que só por um instante,
Por um só e um fatal momento!

Você, misteriosa e única,
Ainda que presente
em todos os leitos de amor…

Fuyuko

Lá está ela – minha Estrela –
Emoldurada na janela…

Noite adentro a contemplo, a brilhar
Nas profundezas de meus olhos,
Na escuridão de minh’alma,
No vazio infinito do Universo.

Brilha para mim,
Sem se aperceber
De sua presença, agora…

Um ponto, apenas,
A reluzir no céu…

Ainda que extinta a Vida,
A chama permanece
Para sempre…

A preservar a esperança,
A alimentar meus desejos…

Luz, enfim, na solidão
Inconsolável de meu Ser…

Amar você

Suaves traços antecipam-me o Prazer…
Sobre tua pele alva,
A Seda se insinua,
Acariciando tua intimidade,
Excitando meus olhos…

Percorro, em pensamento, teus relevos,
Densas paisagens de meus sonhos…

Dos teus seios que me são meus,
Sorvo, deliciado, o néctar
Que alimenta meus desejos.

Penetro, enfim, em teus mistérios…
Enlouquecida paixão inconfessável…
Eternidade em um momento…

Linda…

Infinitas noites – meus temores…
Estranhos pensamentos…
Doce e bela, invades o meu indefeso Ser!

Vejo-te em mim ( ou eu em ti… ),
Deliciado de tantas ternuras…
Encantado desse universo em que resides,
Inebriado de tua presença…

Absolutamente só!

Estranha energia
Que me transforma e agita…
Vejo-te em meus olhos ( ou nos olhos teus… ).
Seria, talvez, em nosso próprio sangue
Que, em um só corpo, se confunde e transita?…

Estranha ilusão…

Interpenetrados seres, perdidos de amor…
Plena realidade de meus sonhos…
Expansão de consciência.

Tresloucado Ser,
Incapaz de se resguardar de si mesmo…
Simples ilusão de viver.
Silêncio, enfim… apenas isso…

Satori

Cifradas senhas ocultas em ti mesma…
…e, no entanto, lá estavas, evidente:
Bela, plena, exuberante e forte…
A um só tempo, incompreensível e fugidia…

Tua presença, mimetizada no Infinito!…

Milhões de seres pesquisei, cansado,
Por não sentir que, eterna e derradeira,
Me esperavas, postada ao meu lado.

Que, sendo a última, continuavas a primeira,
Única flor perene, a desabrochar
No deserto de minha solidão…

Lamento (1970)

O orvalho, que chora, silenciosa, a madrugada,
Acarinhando a relva, embelecendo a alvorada,
Desperta o mundo à infinita caminhada
Em procura do Amor, da Paz…
Ao encontro do Nada!…

Nossos Mestres

Silentes seres inocentes,
Pacientes,
Testemunhas caladas da História.

Supomos neles não haver
Senão vida
Passiva,
Vegetativa,
Inconsciente,
Não inteligente…

Mas, dos Mestres, a Sabedoria,
Em sua humildade e solidão,
Neles se manifesta plenamente,
Complacente,
Suportando nossa crueldade:

Lentamente mutiladas,
Desfolhadas,
Dizimadas

Sem compaixão…
Belas árvores,
Contemplativos Mestres…

Ser de Luz

Roubaste-nos a Vida
Mais querida,
Razão de nosso Entendimento…

Dia a dia,
Em sua lenta agonia,
Gota a gota a se suceder,
Uma a uma,
Cadência infinita,
Ampulheta da Vida
Em seus mistérios ancestrais.

Por nossos tristes olhos,
De nossos braços vazios,
Um Ser amado se perdendo
Na incompreensível solidão
Da Eternidade…

Transição…
Transmigração…
Nossa Morte, enfim…

Meu Bonsai

Pequenina árvore de milenar sabedoria,
Contigo carregas tua beleza e harmonia:
Robusta delicadeza!

Cultivar-te é uma Arte!

Descuidar-te, ainda que por um momento,
É a morte… é a Morte!

… e como me dói tua morte, meu Bonsai!
Pois mesmo que muito te amasse
(e eu o fiz, creia-me!)
Jamais suspeitaria
A falta que me farias!

Bonsai, querido, de tão poucos dos meus dias,

És meu Pai!

Mãe

Suave, serena, delicada…
Flutuas entre nós, em teu carinho.
Bom te ver, sentir tua presença,
Estar diante do Ser que nos criou…

E, no entanto, tão poucos os momentos…
Estamos sempre sós, tão enredados
Nas tramas que a Sorte nos legou…

Ainda assim, eis a maior dádiva:
Estar presente em tua vida neste instante,
Que seja eterno, qual o Poeta declarou!

Soneto (1999)

Tantas vidas teria para amar-te,
que seria imprudente contemplar
de um lance, somente, teu olhar,
que reflete o Universo, o Amor e a Arte!

Se algum bom-senso ainda me restar
para agir, pensar e desejar-te
sem, contudo, na ânsia, sufocar-te,
seja, assim, manifesto, meu falar.

Só desejo, de ti, a melhor parte:
a Essência, a Beleza e o Coração!
Nada além, que possa ofuscar-te

o infinito que dure esta paixão!
Só, destarte, eu posso assegurar-te
nunca mais retomar minha razão!

Kikuyo

Sutil ironia…

Vejo-te na graciosidade incontida de teus gestos…

Perplexo, diante do infinito que não houve…

Eternamente presente em tua ausência minha…

Estranho desencontro,

que nos preservou, a um só tempo, próximos e distantes…

Em um só momento, tão íntimos e estranhos…

Platonicamente irmãos…

Simplesmente amigos… nada mais…

La Petit

Pequenina e delicada pérola,
A mim, pela Sorte, revelada,
Que segredos se resguardam em teu Ser,
Se a Vida, em seus Acasos, te herdou e não sabe?

A quem concedes tu tais ternuras,
Carente de mil carinhos,
Repleta de tanto amor,
Se a ti mesma te renegas
A Sorte de teu valor?

A que buscas, assim, tão menina,
Contraditoriamente sábia e sensata,
Que caminhos, enfim, te reserva
A Sorte que ma roubou?

Tão-somente o Infinito,
Que teu é esse Destino,
Imenso e pleno de Amor!…

Luciana

Encantamento por te saber assim tão bela!
Não somente em tua forma e conteúdo,
Que assim se resume, do ser, a visão pobre…

Bela, porém, em tua essência plena,
Na universalidade absoluta de teu Ser!

Assim te vejo, Filha Minha,
Não pelos cansados olhos meus,
Mas pelo inocultável brilho de tu’alma.

Querida sempre, menina e mulher,
Cuja trajetória, já tão precocemente definida,
Evidencia a grandeza de algo que me recuso a reconhecer…
E que, no entanto, existe!

MORY

Prima donna de meus mais secretos pensamentos!
Minha doce menina, contraditória e forte…
Frágil e arrebatadora em tuas paixões,
Em minhas paixões alucinadas…

A que buscas,
Se vida, corpo e alma minha já os tens e consomes?

Sou… e, contudo, já não mais existo…
Pois, em um só, fragmentado e uno ser, nos fundimos…
Incompreensíveis… incomensuráveis…

Inexpressivos, na imensidão de nosso próprio sentimento…

Gruta do Mimoso

Pareces-te em escombros, à chegada,
Tuas pedras rudes a cortar a caminhada…
Chego-me a ti, afinal,
Como a um confessionário…
E em teu ventre deposito meu destino
À tua perene escuridão…

Aos poucos, a visão se descortina
Ao lago frio… cinzento… silencioso… vazio.
Espelho de nós mesmos…
Apenas sombras… paisagem submersa… como a Alma.

Nas profundezas,
Tua garganta negra… a nos devorar.
Por que a ti me reclamas?
Um dia, ainda irei te possuir…

Ou serás tu a condenar-me à solidão?
A vagar por teus salões, eternamente,
Perdido em labirintos dos meus sonhos…
A procurar, em vão, uma saída…

Pois, em ti, a vida se consumará, por fim.
E encontrarei a Paz…

Lago Doce

Ruídos, chilreios, chiados…
Lembranças de minha infância…
Cigarras, algazarras…
A brisa… calmaria…

De minhas mãos,
Sementes ao vento… no mato…
À beira d’água… nuvem de fertilidade!
A água fétida, barrenta, os insetos…
O pleno sol de meio-dia…
Harmonia…

Angustiados tempos lá-se-foram
No distante esquecimento,
Profunda paz projetada
Em minha solidão…

Como apartar-me dessas recônditas sonoridades
Trazidas do passado,
Presentes na imensidão vazia
Desse pequeno e infindado universo?

Calo-me, enternecido e só…

Palavras…

Sons impronunciados, ansiosos por uma vibração que lhes torne à vida!
Palavra, salta do papel em tua voz, em minha voz distante que não chegou aos seus ouvidos!
Diz a ela “Eu te amo!”, mas diga-o com a mesma emoção que eu senti ao escrever-te!

Faz aqueles lindos olhos brilharem sensibilizados pela sinceridade que estampei ao grafar-te nesta mensagem…
Desperta da tinta a vida que havia em mim quando idealizei a sua imagem encantadora e, como se diante de mim, toca-a como a toquei suavemente com meus lábios carentes! Onde está aquele calor que te imprimi ao te fazer nascer em meus pensamentos que, agora, têm só um e único destino?

Chega-te aos seus olhos, como se o ouvido fosse, e segue-lhe até o coração, tocando-lhe a alma doce, como ela em mim permanece desde o dia em que a vi pela primeira vez…

Palavras… palavras… por que as tenho, se não as posso torná-las mensageiras de meus sentimentos?…

Augúrio

Algum murmúrio em minh’alma…
Alguém me fala algures?…
(a voz se cala… se acalma…)
…se agita a causa infundada
de um pensamento sem nexo!
(… seria a falta de sexo?!!!)

Seria apenas reflexo
de uma ausência agitada?
(…o sol, ali, na calçada,
rubro, se arrasta, de tédio…)

Talvez, este seja o remédio
para uma vida acabada…

Quem, no silêncio mesquinho,
ousara fitar-me a face…
desvendando o desenlace
da falta de teu carinho?…

Sou teu escravo, não nego.
À vida, eu não me apego…
se nada espero alhures..

Tanka

Mergulhos abissais:

Ruídos exóticos borbulham na Eternidade…

Lago Azul

No ventre da Terra
Gotejos fecundam o espelho do Lago Azul

Haikai

Insistente, busca o inseto
a luz que o fascina e não o vê…

Sigo meu caminho…

Haiku

Cá está ela, a noite…
… silente em seus ruídos…
… arrastando horas… minutos… noite infinita!

Rebusco palavras de cenas revisitadas…
… lugares-comuns dos sonhos, talvez…
Estou mudo, vazio, suspenso no ar…

Pedra bruta

Como um cristal, em pedaços me desfaço!
Como um cristal, cada fragmento de meu ser rebrilha ao refletir a tua luz!
Como um cristal, o som desconhecido de tua voz partiu-me aos milhares por não mais suportar a solidão…
Como um cristal, sou puro e eterno nos efêmeros instantes de minha existência.
Como um cristal, apenas passo a Ser através de tua percepção.
Sem ti, sou simplesmente, pedra bruta!

Mein Gott!

Divina Diva!
Deusa dos meus sonhos!
Milhões de anos viveria
para poder desfrutar novamente este momento!

Temera eu estar aqui presente
por suspeitar da paixão que adviria
ao ouvir, embevecido, a melodia
inundar a Catedral com tua beleza,
com tua voz maravilhosa, tua riqueza!

Divina Musa, suprema recompensa, sejas minha!
Possa eu viver por merecer-te
tantos anos quantos queiras, de mim,
receber total veneração, amor, carinho!

Divina Arte!
Instrumento dos Deuses,
tua voz encantadora há de tornar-me
eternamente feliz,
pelo simples, singelo e puro dom de amar-te!

Sendas da vida

Quem me conduz? O Destino? Seria apenas o acaso?

Serei eu mesmo o condutor de minha vida? Entrego-me à Sorte, como um barco à deriva…

Certa vez me perguntava se, mesmo fazendo escolhas, optando por caminhos nas muitas encruzilhadas, meu papel não seria simplesmente trilhar labirintos já formados, e se nos restaria apenas fazer as escolhas acertadas, para não nos defrontar com o Minotauro ao final desta jornada…

Assim, apenas por me sentir um pouco dono desse arbítrio, tomo certas decisões, procurando burlar a minha própria sina. Salto do caminho, sem um propósito definido, apenas para retomá-lo mais além, procurando não deixar pistas nas picadas, iludindo-me do poder divino, que decerto não o tenho, enganando-me das decisões que, na verdade, não tomei.

O que me sustenta nessa longa caminhada é meu Sonho, aquele ser interior que não atua, mas pensa-se intocado. A ele, meu ser interior, meu mestre e meu discípulo, pouco importa se de fato existo, ou se sou apenas pensamento de outro ser também incerto, em seus próprios questionamentos. Por isso penso, mas não sei se existo.

O que me conserva, então, a Vida, além de Baudellaire?

Você, minha querida!

Pois, se a paixão existe, e isto posso assegurar-te, então vale a pena viver, mesmo que somente em pensamento! Poderia, assim, para concluir, dizer que te amo, e que, por isso, EXISTO!

Guilty for nothing…

Without a judgement, I was told to be guilty.
Which penalty? Stay alone, forever… without you…
What for? Who knows… no one but you…
But you didn’t tell me… why? I don’t know…
I just wait for a clemency… in the narrow corridor of death…
The death of my soul…
Who cares?!!!

Andrajos

Da ponta fina e sutil escorre meu pensamento:

Ora, em profunda tristeza, ora pleno em alegria.

Seria a tinta o humor, o sangue de nossas vidas?

Quem alterna o sentimento, da dor à melancolia?…

Quem da mão faz sua escrava, levando à mente a vontade,

Calando enfim o desejo, recompondo a harmonia?…

Seria, enfim, ao contrário, apenas por ironia,

Que a vida se originasse da folha em branco e vazia?

Assim, por mero capricho, rabisco essa poesia,

Que nada diz, na verdade, pois nada me restaria,

Senão silêncio e saudade, senão andrajos de amor…

Zazen

Imóvel, fixo o olhar no vazio de minha vida…

Por instantes, cessa o fluxo indefinido do pensamento,

e encontro o Nada, Mu. Sou, finalmente, um vaso vazio!

Horas se passam em um segundo. Um lapso contém o Infinito!…

Eu e o Todo, um só Ser, Não-Ser…

Além da Vida, a Eternidade…

Somos, enfim, o Nada…

Zen…

Diáfanos seres

Estranhas criaturas habitam nossas mentes…

Sensíveis, delicadas, espectrais, etéreas…

Compreendem-me as mensagens, ainda sem dizê-las,

Transmigram pensamentos, no afã de respondê-las…

Curiosas personagens, diáfanas, perenes…

Ao menos, posso tê-las!

Refratários seres compõem a realidade:

Silentes, altivos, incompreensíveis em sua majestade…

A que sois, afinal?

Ausentes…

Gruta Azul

Em tua intimidade penetro, lentamente…

Devora-me, em teu silêncio!

Extasiado, contemplo a vida em suspensão!…

Recônditos segredos revelam-se em meu ser…

Em tuas paredes ecoam sussurros imaginados…

Gotejas teu suor em nossas mentes…

Pura excitação e prazer!

Enfim, contemplo-me em teu espelho azul:

Sepulcral lagoa encantada!

Calo-me diante de tua majestade, ansiando pela eternidade!…

Mergulho, afinal, para sempre, em tuas águas abissais…

Ponto de Vista

Não há verdades eternas…

não na Ciência ou nas Artes,

Tampouco nas Relações Sociais

(regras que ditam a Lei Moral,

guia de um “bom comportamento”).

Como seriam, então, as Religiões,

eternas e seculares em suas “verdades”

ar-ro-gan-tes e con-tra-di-tó-rias?

Pois estamos sempre a observar a vida de nosso…

Ponto de Vista, visão puramente simplista!

Se a paisagem ao nosso redor é infinita

em seu mosaico de complexidades inesgotáveis,

-depende, tão-somente, do nosso “ponto de vista“-

Infinitas são as visões do Ser em nosso tempo finito.

Se a cada evolução transmudamos o mesmo Ser,

como poderá ser único o nosso Ponto de Vista?

Assim somos nós, altruístas, oportunistas,

Malabaristas na arte de viver essa incerteza real!

Sejamos, então, realistas,

aceitando tudo, em vista da evidência

de que nada existe de-fi-ni-ti-va-men-te.

Assim é o meu Ponto de Vista…

Identidade secreta

Oculto-me nos segredos das palavras não pronunciadas, não pelo medo, mas pela certeza de sua incompreensão. No obscurantismo de minh’alma, revelo-me por completo. Porém, permaneço nas sombras da ignorância que me cerca, não por vontade minha, mas pela impossibilidade absoluta de me libertar do calabouço social onde me encontro. Sou eterno na junção dos pensamentos que me revelam os avatares, intimamente interligados e desconexos, contraditórios e absolutos, impermanentes e complexos em sua simplicidade elementar.

Sigo os passos de Pessoa, convicto da imensidão de sua alma.

Tênue esperança

Você surgiu assim, feito um encanto,
Que se desfaz em sonho, ao despertar.
E não se explica, em mim, tão simplesmente,
Miragem a se esvair na areia de meus olhos,
Tremeluzente instante na eternidade do passado…

E somente ele (o passado) existe,
Além da própria imaginação…
Alento a nos manter despertos,
Na frágil esperança de enriquecer a história
De tão pequeno e insignificante caminhar…

A menina dos meus olhos

A luz se refletiu em teu sorriso
E encantou meus pensamentos.
Teus lábios, face, corpo, num momento,
Tornaram-se a visão do paraíso…

Por isso, em vida e sonho, só em ti penso,
Extasiado diante da delicadeza,
Alma, forma e Ser, pura beleza,
Razão maior de um amor intenso…

Sentimento que me arrebata
E se propaga em minhas veias num instante,

A despertar desejos…
A reviver motivos…
A preencher meus olhos…
A enrubescer-me a face…

A apaixonar meu coração!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

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