O ocaso da vida

Cinquenta anos… poucos sabem valorizar o tempo de uma vida… Cinquenta anos de casados… mais que uma vida, a coexistência de dois seres humanos distintos, com origens diferentes, culturas, experiências, emoções, sofrimentos e alegrias impossíveis de compartilhar… amigos, filhos, colegas de escola e de trabalho… desejos e expectativas que não se traduzem em palavras… encontros, desencontros, verdades, mentiras… somos um casal? Uma família? Dois estranhos em uma mesma casa? Cinquenta anos… bodas de ouro… se quando jovens havia amor, paixão, desejo, cumplicidade… agora só nos resta o passado… tão presente, tão distante… arrependimento ou frustração? Orgulho ou vergonha? Não somos mais os mesmos, perdemos a expectativa do futuro, esquecemos, aos poucos, nossas melhores lembranças, e só nos resta o passar das horas, dos minutos… dias cada vez mais longos, tristes, inúteis, vazios… filhas e netos se afastam de nós, pois seus tempos são outros, ainda têm expectativas de uma longa jornada… para nós, apenas esquecer o que passou… a frustração de saber que não deixamos nada além do passado, que, aos poucos, se apaga de nossas mentes… e o vazio, a escuridão das noites mal dormidas, os restos de dois seres que mal se toleram por não saber o que virá, ainda, no tempo que nos resta… solidão…

por João Carlos Figueiredo Postado em Crônicas

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