Os anos é que passam, ou passamos nós?
Pelas contas dos astrônomos, somos a fração do milésimo de segundo no relógio do mundo, tão insignificantes como o nêutron do átomo da molécula de uma célula morta em nossa unha encravada!
E assim como a folha seca, arrastada pela enxurrada em uma tempestade, somos levados pelas sarjetas de nossas estradas, acreditando, alguns, que são melhores que outros, embora igualmente esquecidos pelo inexorável badalar do carrilhão, anunciando que se esvai a areia de nossa ampulheta.
Lá se vai nossa folhinha, balouçando ao deus-dará, talvez dando carona a um pequeno inseto, mas apenas seguindo a correnteza para a interminável viagem entre esgotos, canalizações, riachos, córregos, rios, vindo a desaguar, se algo ainda restar dessa coitada, em um oceano imenso e agitado.
Com muita sorte, ela irá flutuar por mais alguns segundos, até repousar, finalmente, no fundo do mar, decompondo-se pouco a pouco, e dando origem a novas vidas, tão inexpressivas como a nossa…
Então, para que a soberba? a arrogância? o atrevimento de nos crermos eternos e sábios?
Não há poder além da circunstância efêmera do momento. E este se acabará no próximo instante…