Amo alguém que não existe
Não sou quem eu penso ser
Acredito no Absurdo
Confio na Solidão
Escuto o que não ouço
Sigo os passos do Oculto
Vejo tudo na escuridão
Sei que são Assombrações
Nada além da Imaginação
Fico cego na Evidência
Sou ninguém, sou traiçoeiro
Inimigo da Razão
Minha senda é a Sedução
Mas não cedo à tentação
De ser apenas apático
De confiar na Justiça
Na Bondade, na Ilusão
Sou apenas prisioneiro
Do óbvio, da contradição
Renuncio ao meu direito
De ser o beneficiário
De ser somente cidadão
De ser apenas cordato
Na vida que se apresenta
Nesse mundo de ilusão
Enquanto tudo se esgarça
Em vaidades, miséria, esbórnia
Em ambição desvairada
Enquanto poucos se fartam
Da mesquinhez do mundo cão
Sou um simples marginal
Desse mundo desigual
Luto só por ideal
Supondo até ser possível
Um universo real
Onde primam a Justiça, o Bem e a Bondade
E o Amor sem compromisso
E a Vida só, sem maldade
Mas tudo isso é bobagem
De um pensamento pagão
Afinal, somos apenas loucos
De confiar na suposição
De que além desta vida
Existe a compensação
De tamanho sofrimento
Por um Paraíso de Amor
De Paz e de Compreensão
No fundo… tudo e tão-somente
São os frutos da Ilusão!