Há tempos eu não escrevia uma crônica, talvez por desencanto, ou então por acreditar que minhas palavras não são aquelas que as pessoas gostam de ouvir, por serem amargas (realistas?) e exporem os fatos em sua crueldade natural.
Mas não resisto, e acabo por devassar minha mente aos olhos de vocês, meus amigos, que certamente me perdoarão pela minha aridez e sinceridade. Não mando textos complacentes, mensagens de alívio e de amor. Mando crueza e dor.
Pois o que é esse mundo senão crueldade e ardil, onde transformamos nossas presenças em algo mais do que instintos primitivos, semelhantes em tudo aos animais? Parecemos mais refinados, sutis, talvez até suaves e delicados em nossos gestos, sofisticados em nossas ações, mas na essência somos brutos e rivais. Principalmente rivais.
Pois não há quem não se esqueça imediatamente de seus vínculos de amizade e apunhale, na primeira oportunidade, aquele a quem declarou lealdade e devoção até a morte, no primeiro instante de dúvida e suspeita, de medo e insegurança…
São frágeis as nossas crenças…
Somos assim, meio humanos, meio bichos, buscando sobreviver em um mundo que, pela competição, nos confronta uns aos outros, medindo nossas forças, buscando sobrevivência, lutando, simplesmente, por existir.
E assim nos dedicamos a passar nosso tempo sem reconhecer os verdadeiros valores de nossas vidas, apegando-nos à materialidade crescente do ser, restringindo nossa presença à visão estreita e limitada de nossos pequeninos olhos.