ESTRANHA CIDADE

 

Não pertenço mais a esta cidade
Mas algo me traz de volta aqui
Venho apenas para reviver
Os sonhos que algures deixei

Meu pai talvez soubesse a razão
Porém, ele se foi e me deixou vazio
Levou consigo nosso castelo de ilusão
E me escondi em outros pesadelos

Entreguei-me ao prazer de conduzir
Almas, seres humanos, gente como eu
Perdidos nas incertezas do amanhecer

Mas não existe Amanhã no Ser…
Por isso, talvez, perambulei por aí
Buscando, quem sabe qual motivo
Para perseverar, ainda que disperso
Em pensamentos que não são meus

Como posso refletir se já não tenho paz?
E, no entanto, continuo aqui…

AMAZÔNIA

 

Estranho mundo perdido no passado
Entristecida gente deixada no caminho
Inebriada pelo falso brilho da civilização

Não são brancos, pardos, negros, índios…
São só caboclos, despidos de identidade

Chamam-se ingenuamente de parentes
Como a dispersar assim as desavenças
Deixadas pela dominação caucasiana

Gente sem passado, cantam suas ilusões
Fingem preservar, assim, as tradições

Mas elas não existem mais… se foram…
E não haverá quem as resgate do passado
E viverão assim na eternidade que não há…