Segue a Vida…

Num canto do palco vazio, silente…
Trapézios, tecidos, pedaços de sonhos…
Lembranças perdidas, artistas calados…
Inútil ribalta, carente de gente.

Os dias, semanas, os meses se passam…
O artista, por fim, dessa luta desiste…
Ensaia calado, sozinho, isolado…
Mil planos na mente, ninguém a seu lado.

A vida transcorre, sem cor e sem graça,
As horas se passam sem motivação…
Os dias se alongam eternos, vadios…
Pessoas se arrastam, ao léu, apagadas…

No entanto, o artista, reergue o teatro,
Com zelo e cuidado, preenche o vazio:
Sorriso nos lábios, o circo voltou!
A vida, aos poucos, desperta, por fim…

Nem tudo, porém, à sua volta, acontece:
Ribalta vazia, plateias ausentes,
Revelam os tempos mutantes de agora,
Famílias fechadas nas casas sombrias…

São seres humanos, sofridos, vadios,
Retrato das trevas, roubadas da dor,
As vidas ceifadas, precoces, silentes…
A dor, a tristeza, o pranto incolor…

Mas nova esperança ressurge silente,
Um canto suave ressoa no espaço,
A brisa agradável, afagos do amor,
O jovem artista desfila no palco…

E mostra a si mesmo que a Arte voltou!
Seu corpo rebrilha, balança no ar,
Retorce, se exibe, desperta, calado,
Descobre-se vivo, em pleno fulgor!

No chão desse palco acendem lanternas,
Que giram o fogo, pintando o cenário:
Brilhantes, desenham mil traços de luz,
Inundam seu mundo de vida e esplendor!

A quem esse artista exibe sua arte,
Se o povo não veio curtir seu labor?
A imagem das cenas percorre os espaços,
Levada do circo às casas das gentes!

Ao redor desse palco, as arquibancadas,
Já não mais importam, perderam o valor…
Em vez de pessoas, agora são lentes,
Cenários mutantes do mundo emergente…

O “novo normal”, afinal, transformou
A vida, os sonhos, e tudo mudou…
O palco é o mundo, mas algo morreu:
A alma do povo desapareceu…

A história, no entanto, aqui não termina,
O tempo se passa, as coisas se ajustam,
Pessoas retornam à sua lide diária,
Caminham nas ruas, alegres, sem mágoa.

As lojas, escolas, as arquibancadas,
Repletas de gente, alegre e contente,
Festejam a vida, aplaudem artistas,
Que os tempos felizes tornaram a nascer!

O atleta se mostra em todo esplendor,
Subindo ao vazio, por longos tecidos…
Suave desliza nos panos erguidos,
Girando, dançando, acrobata do amor!

Seu povo o aclama, herói encantado,
A todos declama seus versos, calado…
Parece uma ave, flutuando no espaço…
E a lide o transforma num belo palhaço.

A próxima cena se abre no palco,
E o astro se torna o suporte perfeito
Da linda menina, um anjo de luz,
E juntos esculpem sua obra de arte:

A força contida se junta à beleza,
Girando, calados na dança sutil.
Naquele instante a vida se cala,
O tempo incessante parou para ver…

Ali, nesse espaço da vida que flui,
O Eterno se mostra nos corpos febris,
Enquanto a plateia se queda calada,
Cortinas se fecham, e a cena se esvai…

Naquele momento de Paz e Harmonia,
O mundo reencontra a razão do viver:
O Palco da Vida depende de nós!
Pois somos eternos, por um mero instante…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

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