“Admirável mundo novo”

Não é meu propósito debater a evolução histórica que levou o mundo para o sistema capitalista, assim como não pretendo discutir a revolução soviética que derrubou o czarismo e implantou as teorias de Marx e Lenin, batizando-as de Ditadura do Proletariado. Entendo que meu público domina sobremaneira esse conhecimento do processo civilizatório e, mesmo aqueles que não dominam as ciências sociais, políticas e históricas poderão buscar esses antecedentes fartamente documentados em sites de debates político-social-histórico, como a Wikipedia.©

Meu propósito é discutir o mundo contemporâneo e suas contradições, que nos levaram a uma situação catastrófica, caracterizada por grandes blocos de países discutindo teorias anacrônicas e mal sucedidas, uma vez que não existe país no mundo onde vigora a paz e a harmonia concebida pelo brilhante escritor Aldous Huxley, cujo título utilizei neste artigo como referência às transformações tecnológicas, científicas e sociais que regem o comportamento das classes privilegiadas, ao mesmo tempo em que isolam a grande maioria das populações miseráveis, seja em grandes nações capitalistas, seja nos países social-comunistas remanescentes.

A “virada do milênio” chegou com transformações radicais, tamto pela revolução tecnológica, como pela revolução social caracterizada pelo desenvolvimento das redes sociais, seus impactos sobre as tradições, costumes e comportamento da população jovem, mais afeita às mudanças comportamentais que se seguiram ao chamado “Bug do Milênio”, já tratado em outros artigos meus. Vale, porém, relembrar que essas transformações exigiram enormes investimentos pelas Big Techs (IBM, Google, Microsoft, Unisys, Hewlwt-Packard e outras companhias), exigindo, de seus usuários e clientes, outros investimentos em adaptação dos softwares para se adequarem à mudança de calendário, além de renovarem os parques tecnológicos dessas organizações.

Alguns “mitos” também foram desacreditados, como a hipótese do “fim do mundo” no ano 2.000, cujo slogan “Um mil passará, dois mil não chegará”, frase emblemática do “vidente” Nostradamus, que fez previsões que o notabilizaram pelos acontecimentos que coincidiam com suas premonições anteriores, a maioria baseada nos livros sagrados do Apocalipse, da Bíblia Cristã. Evidentemente, o mundo não acabou, e Nostradamus foi esquecido pela sociedade contemporânea.

Para desenvolver minhas considerações acerca do desequilíbrio socioambiental de nosso “Admirável Mundo Novo”, destacarei algumas contradições que determinaram as transformações da sociedade, legando às classes menos favorecidas seu cruel destino, desde que a Humanidade se estabeleceu e se diferenciou neste mundo, espalhando-se pelos seis continentes, curiosamente esquecidos de seu legado histórico e das Bíblias Sagradas de cada crença ou religião secular.

Curiosamente, esses Livros Sagrados foram associados a cada povo anterior a Cristo, conforme sua evolução histórica e seus dogmas, que regiam o comportamento de seus indivíduos, tais como constituições medievais, cujo poder consistia de sentenças cruéis e punições severas, associadas às “Leis Divinas”, ‘ditadas’ por seus profetas e suas divindades. Esse ‘outro mundo’ dos espíritos determinou que parte dessas sociedades teria privilégios, enquanto a maioria do povo seria condenada a sustentar a riqueza e o poder de seus mandatários, sacerdotes e senhores feudais.

Analisando essas ‘culturas’ ideológicas ou religiosas, constatamos que as contradições entre a ‘justiça divina’ dos sacerdotes se acomodou confortavelmente à ‘justiça terrena’ da nobreza e da riqueza das classes privilegiadas, que nem mesmo as transformações milenares da sociedade humana conseguiram abalar. Por isso, ainda neste século das revoluções sociais extremas, ainda existem os Papas, Cardeais, Arcebispos, Bispos, Padres, Pastores, Aiatolás, Imãs, Rabinos…

As nove religiões mais praticadas desde o fim da Idade Média são o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo, o sikhismo, o judaísmo, o espiritismo, o bahaísmo e o xintoísmo. Templos suntuosos foram erguidos ao longo dos milênios para reverenciar as divindades e associar o poder místico original ao poder político. Curiosamente, essas estruturas hierárquicas permaneceram até hoje, mantendo a ‘fidelidade do rebanho’ às suas crenças, igrejas e templos.

Paralelamente ao poder dos impérios pré-medievais e das igrejas milenares, a sociedade contemporânea criou e manteve suas próprias estruturas de poder, baseadas em “políticos”, palavra oriunda de “Polis”, as cidades-estado dos gregos, que hoje seriam ‘cidades’, na divisão territorial dos Estados-Nações e suas subdivisões que, nos países ditos ‘democráticos’, são estruturadas em cidades, municípios, estados e países, além de nações alinhadas, politicamente, aos conceitos de ‘democracia’, ‘socialismo’, ‘comunismo’, ‘impérios’, ‘reinados’, ‘ditaduras’, ‘comunidades econômicas’ e organizações militares e políticas (como a OTAN e a ONU, por exemplo).

Diante dessas considerações preliminares acerca do mundo atual, vamos aos problemas políticos, econômicos, sociais e ambientais de nosso “Admirável Mundo Novo”. O desnível socioeconômico no mundo contemporâneo está associado a problemas como o desemprego, a fome, a miséria, às habitações precárias (favelas), aos preconceitos, à segregação sócio-racial, dentre outros. Porém, o crescimento demográfico descontrolado tende a agravar, progressivamente, os países mais pobres, gerando novos problemas, como a emigração de enormes grupos de famílias para outros países mais desenvolvidos da Europa e das Américas, até mesmo sob o risco de vida nas travessias oceânicas.

Atualmente, a população do planeta é cerca de oito bilhões de seres humanos, concentrada, principalmente na Índia e na China, ambas com cerca de um bilhão e quatrocentos milhões de habitantes, nos Estados Unidos, com cerca de 330.000.000 habitantes, na Indonésia, com cerca de 280.000.000 habitantes, no Paquistão, com cerca de 240.000.000 habitantes, na Nigéria, com cerca de 223.000.000 habitantes, e no Brasil, com cerca de 215.000.000 habitantes. A prosseguir com as taxas atuais de crescimento demográfico, em 2.050 o mundo terá cerca de 9 bilhões de habitantes.

Estranhamente, a evolução da humanidade só fez crescer o desequilíbrio entre países ricos, pobres e miseráveis. Hoje, os Estados Unidos detêm cerca de 2/3 de toda riqueza mundial, cerca de seis vezes mais dinheiro que 90% da população mundial, de 8 bilhões de pessoas, considerando-se, ainda, que os países 10% mais ricos da população global controlam 76% da riqueza mundial, enquanto os países 50% mais pobres possuem apenas 22% da riqueza produzida pela humanidade.

  • Contradições do capitalismo

O sistema capitalista substituiu o feudalismo no século XV, com a promessa de acabar com o totalitarismo dos senhores feudais, que tinham o apoio da igreja católica, e concentravam todo poder e riqueza de seus feudos na figura dos nobres das cortes. No entanto, sua evolução exponencial não gerou riqueza para todo o mundo, mas apenas para uma nova casta de aristocratas e investidores, que criaram um novo tipo de império, baseado no Capital, nas grandes indústrias e no surgimento da moeda, o meio de pagamento forjado no processo mercantil-industrial-comercial.

  • Acumulação da riqueza nas mãos dos bilionários, em detrimento dos pobres

Essa nova burguesia passou a acumular riqueza para as famílias mais bem sucedidas e mais abastadas em seus negócios e nas fortunas que amealharam ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que surgiram trabalhadores assalariados, cujos proventos lhes assegurava uma certa estabilidade financeira para viver em boas condições e constituir famílias saudáveis. No entanto, a competição entre empresários fez com que os salários dos trabalhadores não acompanhassem a riqueza de seus senhores, afastando, gradativamente, esses dois mundos diversos, dos patrões e empregados. O poder do dinheiro acabou por criar classes sociais distintas e conflitos entre patrões e empregados.

  • Morte lenta da ditadura do proletariado

Em decorrência da insatisfação com a situação social existente entre patrões e empregados, os filósofos Karx Marx e Friedrich Engels, conceberam os alicerces do sistema Comunista, doutrina que passou a ser chamada de ‘Ditadura do Proletariado’, ou seja, uma sociedade em que o povo é que governaria. Sua hipótese (em poucas palavras) era que a nova situação dos trabalhadores traria melhores condições sociais, uniformizando a riqueza das Nações pelo pagamento de salários justos, assegurando as condições sociais igualitárias para todos, e eliminando a propriedade privada.

Essa expectativa não funcionou conforme previram Marx e Engels, eliminando a liberdade de expressão e de escolhas livres na sociedade. O Estado passou a dominar o cidadão, surgindo, novamente, uma casta de privilegiados dentro do novo Estado comunista. Uma assembleia do povo, com centenas de representantes substituiu os partidos políticos, criando uma pirâmide de representantes que deliberaria sobre as carências e desejos da população, inclusive na escolha de moradias e locais de trabalho, e concentrando no Estado os direitos sociais individuais e coletivos.

Se o Capitalismo criou a Democracia, os partidos políticos e a liberdade de escolhas dos cidadãos, o Marxismo-Leninismo optou pela realização do desejo coletivo de escolha em benefício do Estado totalitário. Observando hoje as nações comunistas mais bem sucedidas, como a Rússia e a China, constatamos que suas populações não têm autonomia sequer para educar seus filhos conforme suas escolhas de moradias, de relacionamentos sociais, de emprego e de satisfação de seus desejos de consumo e, até mesmo, de sair livremente do país para conhecer o resto do mundo.

  • Morte dos miseráveis, oprimidos pela fome, desencanto, desprezo e abandono social

O que percebemos, depois de tantas experiências de estruturação das sociedades humanas, é que nenhum dos atuais sistemas de governo trouxe a igualdade, a justiça, a liberdade, a qualidade de vida, a autonomia e todas as vantagens pretendidas pelos filósofos, sociólogos, antropólogos e pensadores de todas as épocas da humanidade. O que constatamos é que a grande maioria das populações, sob qualquer regime de governo, nunca encontrou a justiça, a paz, a segurança, a qualidade de vida, o bem-estar social e todos os benefícios que o progresso prometeu aos cidadãos.

A maior vítima de qualquer sistema de governo é o cidadão de bem, trabalhador e honesto, cujos prncípios e valores deveriam ter sido conquistados pelo seu próprio mérito, mas concedido e estruturado de acordo com as igualdades de direito exigidas pela Democracia e pela Liberdade. O que se constata em qualquer país do mundo, seja rico ou pobre, é que a Humanidade não cumpriu seu papel socioeconômico de construir nações sólidas, prósperas, justas e igualitárias, conforme preconizava o mundo ao término da Segunda Guerra Mundial, que ceifou 70 milhões de vidas.

O mundo continua fragmentado e segregado pelas ideologias, pelas religiões e pelos interesses daqueles privilegiados que todos os sistemas de governo prometeram acabar, em favor de um mundo verdadeiramente democrata, estável e pacífico. Em nenhum momento da História da Humanidade o ser humano conseguiu justificar sua presença e existência nesse mundo, a despeito de suas crenças, ideologias, convicções pessoais e desejos de evolução com respeito à sociedade.

  • Extinção das florestas tropicais e de seus habitantes selvagens

Não satisfeito com seu legado de violência e desprezo pelos seus semelhantes, o ser humano não destruiu apenas a vida em sociedade, mas também transformou o mundo em um palco de violência contra seu próprio habitat natural. Gradativamente, os rios, as florestas, os lagos, as praias, o relevo e as fontes de alimentos são extintos e, cada vez mais, se destrói o próprio planeta.

O desequilíbrio ambiental do mundo se agrava na mesma medida da ambição humana, do desejo de acumulação de riqueza, do ódio implantado entre as diferentes etnias da face da Terra, nas guerras sem sentido, com seus milhares de mortos, nas ditaduras sanguinárias, que torturam e matam sesu próprios cidadãos, no tráfico de drogas e de seres humanos, convertidos em escravos.

Aos poucos, as catástrofes “naturais” se ampliaram em volume e intensidade, demonstrando que o planeta está sendo exaurido de suas forças e surrupiado de suas riquezas naturais. Até quando será possível ter esperanças de um mundo digno e justo? Até quando a Natureza sobreviverá aos desperdícios da humanidade, à geração de lixo, ao consumismo sem limites, ao extermínio de animais, de florestas e de aquíferos? Por quanto tempo ainda acreditaremos que o ser humano é a melhor criação deste Universo, e que somente a Terra possui vida inteligente e capaz de sobreviver?

  • Lideranças de fanáticos totalitárioas, inebriados pelo poder (Putin, Erdogan, Milei, Trump, Netanyahu, Xi Jin Ping, Hugo Chaves, Kim Jong-Un)…

Sem pretender generalizar, e olhando apenas para o extremo fascismo das mais poderosas lideranças mundiais, como justificar as escolhas da humanidade pelos seus mais poderososo líderes citados acima? O que esperar desse planeta quando a escória humana tomou conta de lideranças, esquecidas do direito inalienável dos povos por liberdade de expressão, direito à vida digna, justa e imprescindível de viver em sociedade, sem ter que enfrentar a violência e o ódio desses governos?

Esses nomes citados acima são os maiores criminosos da história contemporânea, pois se julgam no direito de exterminar seu próprio povo e o que resta da natureza, por seu propósito cruel de eliminar seus adversários políticos para se manter no poder. Como, então, acreditar que não haverá uma nova Guerra Mundial, que poderá ser fatal para o planeta?

É passada a hora de refletirmos acerca de nossos conceitos e atitudes, diante desse nada admirável mundo, repleto de contradições, injustiças, ambições desmedidas e sede de poder…

Aguardo sua resposta...