A apologia do ódio e o ocaso de uma Nação (2018)

Quando o atual presidente mobilizou seus milhões de fanáticos e conseguiu se eleger, mesmo existindo tantos nomes melhores e mais qualificados, ninguém (nem mesmo seus adeptos fascistas) imaginou a dimensão da tragédia que se avizinhava para nosso povo. Agora, caídas as máscaras, nos defrontamos com a pior crise institucional por que passamos, desde o fim da ditadura militar de 64.

Na breve existência humana neste planeta, somente há cerca de 2,5 milhões de anos teria surgido o primeiro humano (“homo habilis”); depois, há 1,8 milhões de anos surgiu o “homo erectus”, nosso primeiro ancestral hominídeo… mais recente, há cerca de 500 mil anos surgiu o “homo neandertalis”, sendo que há apenas trezentos e cinquenta mil anos teria surgido o “homo sapiens” , parente mais próximo de nosso povo atual. O “homem moderno” (“homo sapiens sapiens”) é ainda mais recente e surgiu “apenas” há cerca de cinquenta mil anos… Porém, para cada ser humano, apenas o breve período de sua curta vida importa, restrito a poucas décadas, e limitado pelas suas próprias restrições intelectuais, seu parco conhecimento da história que o antecedeu, desde o surgimento do homem na Terra. Porém, mesmo como seres sofredores desse “vale de lágrimas”, como pregam o novo e o antigo Testamento cristão, jamais nos conformamos com a crueldade que caracterizou nossas vidas passadas, fôssemos nós os faraós, os reis, imperadores, tiranos, déspotas, ditadores, presidentes, bispos, papas, pastores ou quais fossem os rótulos que os distinguiam do cidadão comum, do povo, da plebe ignara, dos homens das ciências, dos executivos das empresas, de outras pessoas de qualquer espécie, às quais subordinamos nossas vidas, e de quem dependemos para sobreviver.

Passaram-se oito meses apenas, cerca de 240 dias desde a posse desse ser rancoroso, perverso, egoísta e repleto de “verdades” próprias, coberto de “certezas” que sequer compreendemos onde ele as teria encontrado, mas que afetaram profundamente nossas vidas, algumas até de forma irreversível em suas consequências nefastas e abomináveis, como todas as falas desse maníaco radical e desprezível. Ainda que seja impossível compreender por que tantos aceitam e apoiam seus atos horrorosos, por fim compreendemos que somos os único responsáveis por sua ascensão ao cargo máximo desta Nação, bem como pelas consequências advindas de seu poder abominável sobre nossas vidas e de nossos filhos.

Ainda que admitamos que uns poucos neste desgoverno insano insistam em cometer o “sacrilégio” de acertar em suas raras decisões, o balanço final será trágico, inevitavelmente, seja nas questões ambientais, sociais, políticas, educacionais, culturais, filosóficas ou científicas. Estamos retrocedendo em todos os setores do conhecimento humano, destruindo décadas de articulações, negociações, regulamentações, acordos, decisões e transformações sociais em busca de uma democracia que nunca existiu nesse planeta. Trata-se de uma “política de terra arrasada”, como aquela de Adolf Hitler e seus marechais, ao marchar pelas planícies soviéticas visando destruir aqueles povos, e que, ao fim dos combates, resultaram em 70 milhões de cadáveres e numa explosão demográfica sem precedentes (“baby boom”) e uma economia mundial em frangalhos por décadas.

Ainda que queiramos encontrar boa vontade, mesmo em um ser ignorante e tosco como Bolsonaro, é impossível não admitir que tudo que ele faz é errado, é sujo, é nojento, determinado a aniquilar tudo o que se conquistou nesses trinta e poucos anos desde a ditadura militar de 1964-1985. Nem mesmo Vargas ou Médici conseguiram ser piores do que a maldita “famiglia” Bolsonaro, com seus números UM, DOIS e TRÊS, apoiados por militares de alta patente, políticos lambe-botas e puxa-sacos de última hora, dispostos a ganhar sua “beiradinha” de vantagens, e reeditando aquela “velha política” que prometeram enterrar, mas que persiste em corroborar seus malfeitos, sem nenhum constrangimento.

Mas o que mais nos apavora é a omissão de toda a sociedade, que finge não lhe dizer respeito se o Brasil vai se acabar em apenas um mandato, ou será necessário um segundo tempo para aniquilar de vez com tudo aquilo que caracteriza uma verdadeira Nação: seu Povo, seus Silvícolas, sua Cultura, seu Saber, suas Instituições mais valorosas, suas Riquezas Naturais, sua Dignidade, sua Ética e sua Honra, seu arcabouço Legal e sua Constituição; tudo isso conquistado com esforço e trabalho, muito sofrimento, torturas, terror e angústia dos verdadeiros Heróis tombados nos campos de batalha das Ideologias, das Contendas Intelectuais, dos Parlamentos Democráticos, que são a Fundação essencial de qualquer Povo. Sem isso, uma pátria é apenas um território (um espaço físico), uma bandeira e os soldados, representando o Poder pela força das armas, e não das Ideias…

O que não sabem, ou não se apercebem, é que, neste planeta, são bilhões os miseráveis, centenas de milhões os pobres e “remediados”, mas apenas poucos os ricos, abastados e mesquinhos que nada compartilham de si para eliminar tais diferenças, tais injustiças, e redimir o sofrimento da humanidade. Pois, paradoxal é o fato de que essa imensidão de renegados é que assegura, aos poucos privilegiados, a riqueza e a luxúria, pagas com sua miséria, sua ignorância, sua sede e sua fome… O que restará deste Brasil quando esse ciclo de terror se acabar, e nossas florestas estiverem extintas, juntamente com toda sua riqueza, sua vida selvagem, seus Povos da Floresta, suas Culturas e seu Saber Ancestral? O que será de nosso povo quando sobre a Nação prevalecer a ignorância e a estupidez de falsos profetas, falsos filósofos, falsos mentores que incutiram, em nossas crianças, uma imensidão de besteiras que só um astrólogo expatriado e fracassado poderia engendrar e espargir nas mentes doentias desses déspotas medíocres que se aboletaram no poder?

Estou, com certeza, na última década de minha existência. A mim, pouco importaria se esse país se incendiasse, aniquilando toda beleza natural que tive a felicidade e o privilégio de conhecer, enquanto apenas desertos vazios permanecerão nas savanas devastadas daqueles que sobreviverem. Pouco me importaria se o agronegócio fracassasse, porque já não haveria água suficiente para irrigar sua soja e alimentar seu gado, ficando apenas com seus campos imensos, secos e monótonos, cobertos de monoculturas entediantes e inúteis. Pouco me importaria o futuro dessa Nação se nela eu não tivesse plantado minhas próprias sementes de amor, criado minhas filhas e cuidado de meus netos, agindo, sempre que possível, com cordialidade, generosidade e humildade, em minha luta incessante e desinteressada pela Justiça e pela Paz, produzindo meu trabalho de forma honesta e digna, independente de cargos e recompensas. Simplesmente porque sou ateu e marxista, acredito no Bem, na Justiça e Igualdade entre os seres vivos, e amo a Natureza com suas belezas e riquezas incomensuráveis, e estou morrendo, assim como todos aqueles que se dedicam a construir, em lugar de destruir, como faz esse imbecil, com sua “corte verde-oliva” e seus micos amestrados, alçados ao poder por uma rede de intrigas, de mentiras, de conchavos, de conluios, de interesses escusos e ambição desmesurada…

Porém, muito mais me surpreende e entristece constatar que todos os brasileiros, bons ou maus, também morrerão à míngua, sem tempo para se arrepender, por terem sido omissos, coniventes e alienados, por terem compactuado com mentiras, falsidades, e a demagogia sibilina desses “ídolos de barro” que se instalaram covardemente no poder…