
Seu fim está próximo e não se trata de mais uma profecia. Apenas a constatação do óbvio que se apossou desse pequeno e insignificante mundo.
Não sei quem matou Deus, ou se, de alguma forma, ele jamais existiu, mas estamos sós como nunca, nesse vazio espectral do Universo.
De repente, a Humanidade se tornou desprezível, fria, mesquinha, irrelevante, sombria, nefasta, pequena demais para se fazer existir.
Matamos nossas florestas, as árvores, os animais, os regatos, as belezas desse mundo, o prazer de apenas permanecer na chuva, sentindo seu gotejar inebriante, a alegria de estar, simplesmente, abandonado aos pensamentos e reflexões embaixo de uma sombra às margens da cachoeira… só nos restou um imenso deserto, árido e estéril.
Banalizamos o Amor e as Amizades… destruímos a Família pelo isolamento das tecnologias avassaladoras do cotidiano, e sepultamos nossos valores mais perenes, para nos transformarmos em mortos-vivos, seres ensimesmados e ausentes em pensamento, daqueles que nos são queridos…
Não há mais silêncio, nem escuridão. Não há privacidade, nem a solidão suave do meditar, do refletir, do emanar boas energias ao Universo… Desapareceram a gentileza e a emoção. Restou apenas a profunda e inexorável Imensidão do Nada a permear nossas vidas…
As ideologias, as crenças, as histórias contadas no recôndito do lar ficaram no passado inexpugnável das memórias esquecidas… as doces lembranças se tornaram irrelevantes, pois tudo agora é igual, medíocre, mesquinho e fortuito, irrelevante e efêmero.
Viver deixou de ser perigoso, surpreendente, fantástico… tudo se transformou em monotonia, mesmice, desgraça, insanidade… e só nos resta deitar e morrer, inúteis e desamparados.
No horizonte ficaram apenas a fumaça, a fome, a morte, o terror, a miséria, o ódio, a ganância, e a infinita devastação das paisagens amarelecidas…
Um imenso e contínuo Dèja Vu se apossou desse planeta repleto de zumbis, vagando inconscientes, atônitos, perdidos na sua solidão sepulcral.
Tudo agora é inútil e desnecessário… até mesmo o interminável processo da vida: nascer, crescer, viver, procriar e morrer, pois o Ser Vivente, que existia em cada um de nós, se apequenou e desapareceu na própria insignificância do existir.
Restaram, tão somente, os frangalhos despedaçados da vida que se esvai, rapidamente, no limiar desconhecido desta Terra agonizante.
O que fazer, então, senão esperar, desalentado, que o Fim se manifeste, aqui e agora, eliminando o sofrimento e sepultando a Humanidade?
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