Nunca pensei que ele me faria tanta falta assim… mas, ao ver outros espécimens da mesma família, um sentimento de tristeza tomou conta de meus pensamentos… lembrei-me das longas horas que passamos juntos, monologando sem censuras sobre o universo, a vida e tantos outros assuntos que não me arriscaria a compartilhar com mais ninguém… ele, o meu Samurai, conservaria os meus segredos!
Mas ele está lá, um monte de ferragens inertes, ao relento, submetido ao seu perverso destino de carcaça imprestável, sem ninguém que se disponha a trazê-lo de volta à vida e às infinitas possibilidades de minhas reminiscências futuras… pobre Samurai!
Despido de sua força e intrepidez, incapaz sequer de se locomover como antes, desbravando estradas intransitáveis, conquistando montanhas inacessíveis, rompendo a inércia dos desvalidos caídos pelos caminhos como tantas vezes fizera, agora é apenas um amontoado de ferros imprestáveis… meu pobre Samurai…
Com ele andei mais de 40 mil quilômetros! uma volta completa em nosso planeta!
Dele eu cuidei com o carinho de quem cuida de um ser vivo, recuperando cada peça de sua mecânica incomparável, até trocar sua alma: o motor e o câmbio! Não medi esforços nem recursos, mesmo contra a recomendação de meus outros amigos…
Meu Samurai inesquecível… nunca o abandonei… nunca mais terei um… exceto na lembrança!