Pierrot

Ontem, quando nasci, eu já tinha 30 anos. Negou-se-me, assim, a minha juventude. Percebeu-me a vida quando minhas filhas me encontravam nesta transitória passagem “pelos campos do Senhor”. Despertado dos sonhos, acreditei não ter, ainda, existido; confesso, pois, que não vivi.Nessa dicotomia, corpo e alma defasados no passado, aqui me deparava com essa terra de mudanças, onde o “tudo” ao “nada” precede, e a morte em vida se acaba.

Pois é assim que, nascido prematuro e louco, a consciência recobro justo quando a vida se me nega as infinitas possibilidades que aos demais oferece, generosamente.

E nesse paradoxo do tempo em que me encontro, tua beleza a mim se interpõe, ao mesmo tempo recusando o que se me oferece, apenas por ter estado aqui por mais tempo (muito mais) do que deveria ter ocorrido.

“Uma rainha”, pensei, “jamais uma princesa”. Não pela incontestável beleza, bem o sei, mas por já estares pronta, completa, perfeita em tua exuberância arrebatadora.

Ali estavas, diante de mim, vida manifestada em sua plenitude impecável, deliciosos momentos de inexplicável sedução.

E, ao recobrar a consciência – não a razão, ou juízo – nada mais sou que eu mesmo, prematuro ser anoitecido e inconformado pela vida que a mim se negava.

Quase perfeita, a noite se acaba, restando a madrugada fria, insone, infinita, repleta de lembranças do que não houve e nunca será…

por João Carlos Figueiredo Postado em Crônicas

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