Prima Causa

Nego, em mim, esta razão
Que busca a causa prima do viver.
Sou, pelo que dizem, mas não sei
Se houve o ser em mim, antes de Ser…

Importa pouco, ou nada este pensar;
Pois outros houve neste recorrer sem fim…
Que a nada leva, mas conduz
A Vida até a Morte, sem cessar…

Prima Causa: essência ou nada ?
Matriz ou solidão ?
Ausência, Luz, Inspiração ?

Eternidade…
Fractais da imensidão…
Vazio infinito do Ser…
Não-Ser…
Não sei… talvez…

Contragosto

Escrevo a contragosto.
Por desgosto.
Contra o gosto comum da Sociedade.
Sem ambição, nem vaidade.

Apenas por discordar dessa mediocridade.
Fútil Idade… da Informação… sem conteúdo !
Da Liberdade… e da Ignorância ! Banal Idade !
Inimiga da Arte…

Reflexos da vida

Passivos,
Aceitamos as mensagens
Que nos manda a Tevê
-Que nos vê !Somos nós
A imagem refletida
Nos espelhos desta Vida ?Talvez…
Pois, da tela são, de fato,
As emoções…
Que, em nós, se manifestam neste Ato !

Horrores… Desgraças… Temores…
O que são ?!!!
Só reflexos,
Nas telinhas dessas mentes
Inocentes,
Que Ibopes de Rapina
Asseguram,
Da chacina que se vê !

Retalhos da Vida

Guardamos as memórias
Em objetos recolhidos
Pela Vida…

Fragmentos de existência
Dependurados, displicentes,
Nas paredes
De nosso isolamento…

Quem saberá, um dia,
Ler suas Estórias ?
Nossas histórias…

Pedaços de frases sem sentido,
Incoerentemente entrelaçadas
Nas estantes,
Nos armários…
Pelo chão…

Nas entrelinhas das vivências
Deixadas no passado…
Sem Autor… e sem Protagonista.

Devir

Seguem-se as horas, ordenadas, seguras,
Compassadas pelo tempo
Que o Homem, a si, se criou…

Tempo que não há…
Pois que o infinito ciclo do vir-a-ser
Elimina, incessantemente, o presente,
Que tentamos fixar…

Apenas um momento,
Inexoravelmente perdido
No passado, que o Agora se tornou…

por João Carlos Figueiredo Postado em Devir

Mediana vida

Enredando-me na roda da vida me amesquinho…
Como os outros,
Que os vejo ao derredor…
Nego-me, contudo, esse direito
Medíocre e indesejado de ser… Humano !!!

Seiva pródiga que alimenta
A vulgaridade do apenas Existir !

Recuso-me, ainda que seja isto, tão-somente,
A Vida !

Nenhures

Caminho na Eternidade…
Lá estou… efêmero pulsante…
Insignificante…
Agora, vivo. E, num instante…
Nada mais…

Assim somos,
Repulsivos seres vaidosos do Vazio…

Crentes no Porvir
Que nos consome a todos,
Restando apenas
Cinzas, dejetos de nós mesmos,
Poeira cósmica a se aglutinar em outros seres…
Igualmente vazios…

Mesmice sem sentido e sem razão…

por João Carlos Figueiredo Postado em Nenhures

Penso, não existo!

As palavras são, apenas, um mero registro de meus pensamentos,
sem a cor e a energia que lhes deram vida.

Assim, pois, é a Vida:
no momento em que se manifesta, já não mais existe !
Estranho paradoxo: o pensamento, que nos traz à vida,
é tão efêmero quanto sua criação !

Assim, também, são nossos sonhos: meras ilusões do existir…
E o que nos faz sonhar, também nos faz morrer…

Morro, logo existo…

Sendas da Razão

Quem me conduz ? o Destino ? Seria apenas o acaso ?
Serei eu mesmo o condutor de minha vida ?
Entrego-me à sorte, como um barco à deriva…

Certa vez me perguntava se, mesmo fazendo escolhas, optando por caminhos nas muitas encruzilhadas, meu papel não seria, simplesmente, trilhar labirintos já formados, e se nos restaria, apenas, fazer as escolhas acertadas, para não nos defrontarmos com o Minotauro ao final desta jornada…

Assim, apenas por me sentir um pouco dono desse arbítrio, tomo certas decisões, procurando burlar a minha própria sina.

Salto do caminho, sem um propósito definido, apenas para retomá-lo mais além, procurando não deixar pistas nas picadas, iludindo-me do poder divino que, decerto, não o tenho, enganando-me das decisões que, na verdade, não tomei.

O que me conserva, então, a Vida, além de Baudelaire ?

Você, minha querida ! Pois, se a paixão existe – e isto posso assegurar-te – então, vale a pena viver, mesmo que somente em pensamento ! Poderia, assim, para concluir, dizer que te amo, e que, por isso, Existo !

Alma

De todo dom humano
Maior, ainda, é a Criação !
Ou seria tão-somente o re-Criar,
Se nada existe sem já, antes, Existir ?

Pouco importa…

Transformar a Realidade !
No objeto, a forma pura encontrar…
Da ideia bruta,
Sua própria natureza produzir…

Fazer do nada
Alguma coisa que nos toca
E que, por não saber se é Criar,
Denominamos, simplesmente,
Alma !

por João Carlos Figueiredo Postado em Alma

Suicídio

A fria lâmina percorre seu destino,
Estranhamente muda, silenciosa e bela,
Em um segundo, separando as existências,
Eternamente calando a dor inconsolada.

Ali, repousa o corpo de um menino,
Enquanto a morte, em plenitude, se revela.
E, anciã, se esvai a alma, desgarrada,
Semicerrando, aos cegos olhos, as ausências…

Amores velhos, companheiros de jornada.
Nada mais resta, senão dizer a ela:
“Melhor morrer, a viver só, em desatino”.

Outrora fora feliz, com sua amada –
Assim pensara, confiando ser aquela,
Razão perene, de um sonho pequenino.

por João Carlos Figueiredo Postado em Suicídio

Quase nada

A tua presença me agride
Como os ponteiros de um relógio…
A me alertarem do tempo que se foi,
Sem deixar marcas, nem lembranças…

Apenas horas,
A se cobrirem do pó do esquecimento…

A tua ausência me ofende,
Dilacerando-me as vísceras,
Arrancadas por tua indiferença,
Sem cicatrizes nem feridas…

Apenas sangue,
A jorrar, aos borbotões,
A me cobrir da dor da Solidão…

Presença ausente,
Falas desprovidas de emoção.

Apenas Nada,
A preencher o Universo dos meus sonhos,
A recordar que a Vida permanece,
Reprise de um filme esmaecido,
Silenciosamente mudo…

Apenas cenas
Desconexas, sem sentido,
Angustiadamente assim…

por João Carlos Figueiredo Postado em Quase nada

Sayumi

De que lábios exalam tuas palavras?
Que carícias oculta o teu corpo?…
Em que contexto, enfim,
Entrecruzam-se nossas vidas?!

Perguntas vãs, no improvável
Horizonte dos contrastes…
Sou um, apenas, em tua vida,
De tantos, diferentes personagens…

Ainda assim,
No instante que virá tão breve
Seremos unos, absolutos…

Plenos corpos em si mesmos,
Uníssona vibração incontrolada…

Sensação definitiva, pura…
Fatal… apenas para mim…

por João Carlos Figueiredo Postado em Sayumi

A quem dirige o Poeta seu cantar?

De indecisos traços fluem sentimentos…
Em brancas folhas expressam-se metáforas…
Leituras várias recriam pensamentos…
A ninguém concede, ele, seu viver, compartilhar !…

Por quem derrama seus versos o Poeta ?

À Musa efêmera, deixada nas lembranças ?…
Ao Mote antigo, no acaso despertado ?…
Ao vago Sonho, desfeito nas ausências ?…
Apenas chora… sem causas… nada mais…

Em que consiste, enfim, a Inspiração
Que move a pena insana desse bardo,
Se nada resta, ao fim da Criação,
Senão entulhos de versos descuidados ?

Pois nada importa à Lira desse tolo,
Que verte lágrimas silentes, em palavras,
Pois nada espera, senão este consolo:

A si somente compõe… a ninguém mais !

Diáfanos Seres

Estranhas criaturas habitam nossas mentes…
Sensíveis, delicadas, espectrais, etéreas…

Compreendem-me as mensagens, ainda sem dizê-las;
Transmigram pensamentos, no afã de respondê-las…
Curiosas personagens, diáfanas, perenes…
Ao menos, posso tê-las !
Refratários seres compõem a realidade:
Silentes, altivos, incompreensíveis em sua majestade…
A que sois, afinal ?
Ausentes…

A quem fala o Poeta em seu pensar?

À sua amada, mote e razão do pensamento ?
À pena que conduz o sentimento ?
À branca folha, final destino de seu atormentado ser ?

Nem mesmo a si, talvez…

Pois mesmo assim, reflexivo e só, jamais encontraria eco à sua voz contida… muda expressão da vida, em seu silêncio eterno…
A quem destina, enfim, essa incontida solidão, senão amar-se o próprio sentimento, absoluto, imenso e, a um só tempo, fatal e derradeiro ?…

Sedução

Cá estou, de volta à minha solidão,
Pleno na angústia,
Repleto na insensatez,
Absolutamente dominado
Pelo vil objeto que me subjuga e corrompe !…

Sou, não estou !
E como poderia,
Se pouco ou nada resta a mim,
Senão saber-me assim,
Imobilizado pela dor
De ser escravo de tudo o que abomino…
… e, ardentemente, desejo ?!!!

por João Carlos Figueiredo Postado em Sedução

Carícias

Bizarras peças te ocultavam:
Exóticas, imensas, disformes,
Estranhas em sua funcionalidade…

E lá estavas, seminua,
Contrastes de beleza e sofrimento,
Teu corpo confessando as lides do amor.

É cedo… é tarde… é, apenas, agora.
Ali, o tempo se eternizava,
Confundindo noites e dias,
Incontáveis horas… sempre iguais.

Bebidas, mulheres, cigarro, algazarra,
Um bar indiscreto.

O som, sem sentido, as luzes difusas,
As falas vazias, vadias…

Você ao meu lado,
Levando-me aos labirintos sem sentido, do prazer.

Que se busca nas alcovas traiçoeiras,
Senão enredar-se em carícias
Descompromissadas, efêmeras,
Alucinadas, inconsequentes ?

Apenas fugir, talvez…

Apenas carinhos,
Sensação desconhecida, sempre…

Loucura de se escapar da Vida,
Mesmo que só por um instante,
Por um só e um fatal momento !

Você, misteriosa e única,
Ainda que presente
em todos os leitos de amor…

por João Carlos Figueiredo Postado em Carícias

Fuyuko

Lá está ela – minha Estrela –
Emoldurada na janela…

Noite adentro a contemplo, a brilhar
Nas profundezas de meus olhos,
Na escuridão de minh’alma,
No vazio infinito do Universo.

Brilha para mim,
Sem se aperceber
De sua presença, agora…

Um ponto, apenas,
A reluzir no céu…

Ainda que extinta a Vida,
A chama permanece
Para sempre…

A preservar a esperança,
A alimentar meus desejos…

Luz, enfim, na solidão
Inconsolável de meu Ser…

por João Carlos Figueiredo Postado em Fuyuko

Amar você

Suaves traços antecipam-me o Prazer…
Sobre tua pele alva,
A Seda se insinua,
Acariciando tua intimidade,
Excitando meus olhos…

Percorro, em pensamento, teus relevos,
Densas paisagens de meus sonhos…

Dos teus seios que me são meus,
Sorvo, deliciado, o néctar
Que alimenta meus desejos.

Penetro, enfim, em teus mistérios…
Enlouquecida paixão inconfessável…
Eternidade em um momento…

por João Carlos Figueiredo Postado em Amar você