…e Marx tinha razão…

A Vida não leva a nada,
Senão à Morte !

Não há Sorte, nem recompensas:
Promessas de Vida Eterna
Só foram boas para tua Igreja
E para o teu Patrão !

Pois quem suportaria tal privação,
Se não houvesse um Paraíso a lhe esperar ?

Mas não te iludas,
Teu sacrifício foi mesmo em vão !

Teu dízimo e teu rosário,
Tuas rezas, tuas promessas,
O relicário… o Santuário…
As missas, a procissão,
São pantomimas
A disfarçar tua infinita Solidão !
Por isso, eu te esconjuro,
Meu caro Irmão !

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

IndigNação

Perdeste, de nós, o respeito, Pátria minha,
Mãe tão pouco gentil…
Terra em que tudo se dá,
Fecundada a bem só de poucos,
Estuprada de má semente,
Parida na escuridão !…

Indigna é essa Nação
De cabisbaixa Gente calada,
Descrente de seu Porvir…

Onde brilhará o Sol de nossa Liberdade,
Se seus fugidios raios
A poucos, somente, aquece,
Aos poucos se arrefece,
Minguando-se a energia,
Desnutrido em alegrias,
Da Alma que se perdeu ?!!!

Proscrita a Ideologia,
Quem irá nos resgatar
A Honra, a Justiça, a Igualdade ?…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Transeuntes

Ausentes, silentes,
Rostos rebuscam o vazio,
Em face com a solidão…

Quem sois ? quem são ?
Olhares perdidos na imensidão
Do Infinito, da Turba, da Multidão !…

Rumores ressoam roucos,
Incompreensíveis…
Movem-se assim, como loucos…
Desvarios do coletivo inconsciente…

Que passa, enfim, nesse mundo,
Repleto de seres moventes,
Semoventes que não se vêem ?

Perdeu-se a causa primeira,
A Razão do Ser Vivente…
Somos, pois, tão-somente,
Transeuntes…
Desprovidos de Paixão…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

O fim do mundo segundo JC

A cada ano, o mundo se acaba para 100 milhões de pessoas… e não nos perguntamos o porquê, não nos desesperamos, e nem sequer nos importamos com seus pobres destinos…

A cada dia, 300 mil seres deixam de existir… e o mundo nem mesmo sente sua discreta, humilde e definitiva ausência…

A cada minuto, 100 almas abandonam seu espaço terreno…
e apenas umas poucas pessoas se incomodam com esse corriqueiro e irrelevante acontecimento…

Um dia, no entanto, alguém desperta e se recorda que, há mais de cinco séculos, um louco desvairado disse, em seus herméticos pensamentos, que o mundo se acabaria no ano santo de nosso senhor jesus cristo, de um mil novecentos e noventa e nove, ao décimo primeiro dia do seu oitavo mês, pela chegada não anunciada de um estranho astro vagueante, que ao nosso belo planeta iria se chocar, dizimando homens, animais, plantas e todo e qualquer ser vivente, de sua superfície repleta e desgastada…

Quando, afinal, se acabaria o mundo ? Quando dele perdêssemos nós a consciência, ou quando um Ser, cuja infinita existência nem sequer podemos assegurar, perde de nós a sua própria, ubíqua e onisciente consciência ????

Assim, por um medieval sofisma, em plena Era do Conhecimento, passa o mundo a viver sua neurose, a um só tempo ansiando e temendo seu final destino que, de princípio, a cada um de nós já fora, para um dia qualquer, assegurado!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

João, Camarada!

Liberdade !
Tardia, seja quando houver !
Que os grilhões, que aos pobres escravizam,
São de dor… são de Dor !
Da sutil ignorância que nos cala…

Fraternidade !..
Irmãos somente
Nos miseráveis restos
Que a Sociedade nos legou !

Igualdade !
Absoluta e impossível,
Posto que a força que nos move
Jamais conduzirá ao Poder,
Que aos justos e humildes não pertence !

Lutar… para que ?
Se a batalha última perdida
Nos faz rir…
O amargo riso da imagem
Que o passado nos deixou…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Empáfia

Fátuos fogos do Orgulho !
Tola vaidade dos incautos !…
Lúmens efêmeras na oscuridad que nos cerca…
Vagas Lúmens… luminares…

Frágeis seres inflados de si mesmos…
Meras personagens em busca da Ilusão…
Falso poder humano… Ledo engano !…

Afinal, quem sois ?… Nadie…
Apenas imagens refletidas nas paredes da caverna…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Repúdio

A dor se fora com os anos…
Assim como as lembranças…

Morto – como um rato !
Pouco a pouco, dilacerado…
Humilhado, como a uma meretriz !

Nu,
Caquético, em sua privações…
As unhas, todas elas arrancadas,
Uma a uma… como pétalas !
Tantas marcas de tal espancamento,
Em seu franzino espectro…
A dor que ninguém viu.

Quem mais se ocuparia em recordar ?

Na cova rasa,
Vala comum dos Ideais,
O saco plástico,
Ainda a lhe cobrir o rosto exangüe,
Esbugalhados olhos cegos
A delatar inútil desespero.

Sobre seu corpo esfacelado,
Farrapos da bandeira comunista,
Final alegoria dos carrascos !

Segue o Tempo…
Passa a Vida…
E o Augusto General
Cruza novamente o Oceano…
E à Casa torna,
Altivo… indiferente…
Sem remorsos…
Sem receios…
Sem constrangimentos…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Salvador Allende (1973)

Adeus, camarada!
Último alento, Allende se foi…
Um tiro… o sangue… silêncio.

Infâmia!

Adeus, camarada Allende!
Tua vida não foi em vão!
Mil mortes te honraram!

Teus companheiros te clamam…
O vazio se hospedou em nossas almas, camarada!
Mil vozes te clamam…

Teus companheiros te honraram!
As fardas se alojaram em La Moneda.
Nem mil mortes podem vencê-las…

Mas teus camaradas não caíram.
Porque somos a Essência!
E a Essência não pode ser vencida.

Somos o Ideal e o Filosófico!
E viveremos para o dia da Perfeição e da Igualdade…

Adeus, Camarada Allende!

Tua morte não foi em vão!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Meta-linguagem


Metáfora das metáforas:
A essência poética
É uma vivência hermética!

Busca, o Poeta, ocultar, em suas palavras,
O sentido da sua própria expressão.

Em cada figura, uma armadilha
Ao leitor desatento:
"Não me lerás assim, tão facilmente!
Decifra-me e, ainda assim, te enganarei!"

Não há segredo mais guardado
Que a Alma do Poeta!
Ele não tem compromissos…
Nem Razão!

Busca, na rima, na contradição,
Distrair, do leitor, a atenção.
E, nos melindres de sua paixão,
Despistar sua própria emoção.

Sofre, com as Palavras!
Não somente com a Alma…
Devora-lhe o temor
De ser, um dia, desvendado
Pela interpretação, desmascarado,
Exposto à crítica,
Ao mais vulgar entendimento,
Qual um texto banal…

Assim, fugindo à lógica,
Persegue, em tortuosos labirintos,
Encontrar sua própria, absurda
E única Verdade!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Verso inútil

Dei, de mim, apenas a melhor parcela:
Palavras destiladas lentamente,
Como o suor das pedras, após as tempestades.

Entreguei-me à mais antiga profissão
Dos pensadores,
Prostituído do desejo de criar,
Em versos desatentos,
Meu próprio Universo.

Povoei meus mundos
Com a Vida que me foi negada em vida…

E surpreendi-me
Na desilusão da realidade…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Engodo

Sofro a dor do mundo,
Que me cala.

É esta, enfim, a sina do Poeta,
Sem consolo.

Às suas palavras, não há entendimento,
Apenas solidão.
Assim, recria ele seu espaço
E, dele, faz seu mundo
De mentiras,
De ilusão…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Obra autônoma

Li teus versos, poeta das calçadas !
E confabulei com minha inspiração:
Seria essa, também, a minha sina ?

Pois não será, ainda que admire tal dedicação !
Não sou assim, a procurar quem reconheça,
Nas palavras que libero,
Os pensamentos que a mim não mais pertencem,
E buscam eco em outrem,
Alguém que desconheço…

Não interessa a mim se lhes toca a alma
O que senti…
O que saiu de mim…
O que se esvaiu no universo…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Pena máxima

Quem irá me redimir
Dessa vergonha, sem limite,
De viver ao seu redor, sem possuí-la ?

Por quantos séculos haverei de renascer
Para purgar o mal extremo
Que me houve dominar,
Apenas pelo desejo de querê-la minha ?

Em que dobras do tempo se preserva
A beleza oculta em meu passado,
E de cuja lembrança
Só me restam traços desconexos ?

Que pecado é esse, enfim,
Para o qual jamais haverá perdão…
… ou recompensa ?

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Arte e Criação

Conceituar a Arte!
Mais que percebê-la, senti-la!
Ainda mais, interpretá-la!
Acima de tudo, ser seu Criador!

Quem seria o artista, afinal?
Aquele, capaz de discernir
Entre o tosco som e a melodia?
A palavra crua, a Poesia?
Das tintas captar a Inspiração?

Seria Arte…
Do instrumento extrair a harmonia?
Na voz perfeita rever a Diva da canção?

O Artista é, também, o Artesão…

De sons dispersos, palavras, cores, formas,
Produzir mundos, idéias, personagens,
Da fria pedra, o ser oculto libertar…
Gerar beleza, sentimento, emoção…

Pois, na verdade, Arte é a Criação!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Coadjuvante

À Vida observo
Como a um filme antigo:
A ele não pertenço,
Nem sou contemporâneo de seus fatos…

Porém, agrada-me pensar
Que alguém criou
E deu significado a seu roteiro,
Montou esses cenários,
Forjou as personagens,
E assegurou um fim a essa história…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Vivo nu

Exponho-me a olhares desatentos,
Que não enxergam, em mim, o Outro Ser…
Exibo-me à ganância insaciável dos medíocres,
Que não percebem suas próprias formas
Em meu corpo pleno…

Cá estou, armadilha dos incautos,
Que se vexam de seu próprio ser embrutecido,
Que de seu corpo enrubescem, vendo o meu…

Sou assim, espelho de suas vergonhas!…
Reflexo de seu pudor hipócrita,
Objeto da nudez humana, que não se vê!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Alter Ego

Caminho pela noite,
Recolhendo fragmentos de meu Ser.

Nas esquinas, os encontro,
Percorrendo as madrugadas,
Seguindo, em frangalhos,
Outras personagens,
Espectros dilacerados dessa Sociedade…

Pobres Almas…
Em tudo, iguais a mim… Imortais em sua essência –
Reflexos de outros seres,
Tão normais…
Assim tão disfarçados…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Inimigo meu

Escrevo como quem se digladia,
Não por ofensa, que motivos não os tenho,
Nem por prazer, que a luta não é nobre,
Mas por defesa, pois só restam-me as palavras…

Armas, não possuo,
Com que possa defrontar-me ao inimigo,
Estranho desconhecido…
Permeando meus caminhos…
Perscrutando-me o destino…
Pervertendo meu sossego…
Alimentando a minha solidão.

Combato nas trincheiras de meu Ego,
A constatar que, na verdade,
Sou eu quem estou sempre a perseguir…

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Quase-vida

Quase ouço o pulsar da Vida em meu ser…
Como escutá-lo, porém,
Se esta já se foi e não mais a sinto em mim ?

Resta-me, apenas, a sensação, que não houve,
Da Vida por que passei…
Desapercebido…
Solitário, na espectral multidão,
Irrelevante e mutilada, que me cerca…

O que vibra, então, em mim,
Se vida já não é ?…

Que estranha sensação,
Que vida até parece ser…
… e me confunde assim ???

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas

Ex-mortem

Vagueio no espaço de meus pensamentos,
Desconsolado da insensatez que me alucina,
Descrente do ser que me atormenta ao meu redor,
Resignado, apenas…

E a Vida…

Quem há-de fazê-la merecer minha presença agora ?!!!

por João Carlos Figueiredo Postado em Poemas